sábado, 27 de fevereiro de 2016

HemoFamília #17 - Hipertensão

Olá, amigos!

Hoje, 27 de fevereiro de 2016, eu vou contar-lhes o dia a dia na Clínica Travessia durante a semana de 22 a 26 de fevereiro de 2016. Escolhi este nome fictício para minha clínica porque, se Deus quiser, eu farei um transplante renal e me livrarei da dependência da máquina de hemodiálise. De modo que eu estou nesta clínica apenas atravessando um difícil período na minha vida. Os demais nomes também são fictícios e inspirados em nomes de Santos da Igreja Católica.

Cada episódio semanal desta série corresponde a 3 sessões de hemodiálise, mais especificamente às de 2ª, 4ª e 6ª feiras. Assim, eu o publicarei na 6ª, sábado ou domingo. Claro que isso não é uma regra, mas uma diretriz para o momento.

Os 7 pacientes que fazem hemodiálise na minha sala, mais alguns da outra sala e de outros turnos, mais médicos, enfermeiras, técnicas de enfermagem, o pessoal da limpeza e outros membros da equipe, acabam formando uma família, na qual todos acompanham os problemas uns dos outros, compartilham sofrimentos, torcem pela recuperação alheia, alegram-se quando alguém faz transplante e sofrem quando alguém falece. É difícil de explicar, mas a habitualidade da convivência com pessoas tão diferentes em situações tão parecidas, nos tornam uma família e isso é muito bom,  confortante e desperta a nossa compaixão. Gosto muito deste pensamento: "A compaixão é que nos torna verdadeiramente humanos e impede que nos transformemos em pedra, como os monstros de impiedade das lendas." (Anatole France)

     
  
Os 7 pacientes que fazem hemodiálise na minha sala são:

(1) Agostinho é um jovem senhor de 63 anos, inteligente, calmo e sensato, que faz hemodiálise há 10 anos; 
(2) Pedro é um jovem senhor de 45 anos, alegre, comunicativo, amoroso, mas muito rebelde no tratamento, que faz hemodiálise há uns 6 anos; 
(3) Expedito é um senhor de 85 anos, que faz hemodiálise há 8 anos. Ele é muito sério, calado e sente muito frio; 
(4) Joana é uma uma jovem senhora de 50 anos, que faz hemodiálise há uns 3 anos. Ela é muito quieta e reservada. 
(5) Rita é uma senhora de 71 anos, muito delicada, educada e gentil, que já fez diálise peritoneal e passou a fazer hemodiálise após uma infecção peritoneal; 
(6) Tomás é um senhor de 75 anos, muito educado, amável e discreto, que já fez um transplante que durou 27 anos;
(7) eu, Helô, tenho 54 anos e faço hemodiálise há 2 anos e 9 meses. Sou alegre, otimista e comunicativa.

Na segunda-feira, eu cheguei na clínica às 5h45, porque normalmente a sala de hemodiálise é liberada às 6h. A clínica fica no 14º andar e os pacientes aguardam no térreo. Porém, neste dia, ocorreu um problema com a liberação da água para as máquinas, o técnico foi chamado e as salas foram liberadas às 6h30. Eu estranhei o atraso do Sr. Tomás e depois veio a notícia que ele foi internado. O Pedro continua internado. A máquina do Pedro foi usada por um senhor que faz hemodiálise na outra sala, porque a máquina dele deu um problema. Este senhor que deve ter uns 70 anos está bem debilitado, mas muito melhor que há 11 meses, quando eu o conheci. Mais uma vez, o diabetes foi a causa do seu problema. A Sra. Rita chegou com a pressão alta (19x10), mas sem qualquer sintoma. Ela me contou a sua linda história de vida. Ela é japonesa. Chegou no Brasil com 15 anos. Conheceu o seu marido, que também é japonês, tiveram 4 filhos e trabalharam arduamente na terra. Hoje, eles têm uma bem sucedida empresa que planta e distribui verduras hidropônicas para vários supermercados de São Paulo. O Agostinho também chegou com a pressão alta (21x11) e sem qualquer sintoma. Eu e ele nos deliciamos com a história de vida da Sra. Rita. A nossa conversa flui facilmente, principalmente pela disposição das nossas cadeiras. No canto da sala fica a Sra. Rita, ao seu lado é o meu lugar e na frente dela fica o Agostinho. Muito bom! O Sr. Expedito levou um tombo em casa e machucou a perna. A enfermeira fez um curativo e tudo correu bem. A Joana, que fica na outra ponta da sala, é bem reservada, fala pouco e baixo. Então, eu sei muito pouco sobre ela, mas  me parece que ela está bem, apesar de regularmente a sua pressão arterial ser baixa (9x5). Eu ganhei 1,8 litros no fim de semana, o que é um bom ganho de peso para um fim de semana, especialmente por eu urinar muito pouco (200 ml/dia). A minha pressão oscila bastante durante as 4 horas de sessão e, como já desmaiei 5 vezes nesses 2 anos e 9 meses durante as sessões de HD, o aparelho de pressão fica no meu braço e mede automaticamente a cada 30 minutos. Eu estou com Cistite e a nefrologista prescreveu Cipro 500 (1 comprimido por dia durante 5 dias). Não é nada fácil ser nefrologista, pois cada sessão de hemodiálise é diferente e os problemas de cada paciente são os mais diversos possíveis, que exigem uma decisão muito rápida. 

Na quarta-feira, a sala de hemodiálise foi liberada às 6 horas e eu fui ligada à máquina às 6h15. O meu acesso é chamado de túnel ou buttonhole, que é uma técnica que a agulha de corte é inserida exatamente nos mesmos dois lugares (arterial e venoso) em sessões consecutivas (de cerca de 14 a 20, conforme avaliação da enfermeira) até a formação de uma canulação (túnel) que será puncionada posteriormente com agulhas sem cortes. Os meus túneis foram feitos assim que iniciei a hemodiálise (8/5/2013) e continuam os mesmos, como poderão vê-los no meu braço na foto abaixo, tirada em 25/2/2016. A braço fica menos feio. O Pedro continua internado na UTI, entubado e sedado. A querida Sra. Maria Tereza, mão dele, tem me dado notícias. Estou em oração!!! O Sr. Tomás também continua internado, mas eu não sei o motivo. Eu também estou rezando por ele!!! A Sra. Rita passou bem, apesar da constante pressão alta. Mas, quando acabou a sessão e a técnica retirou as agulhas, vazou bastante sangue e teve que trocar 3 curativos. Ela tem diabetes decorrente de um grave acidente automobilístico que ocasionou a retirada do seu pâncreas. É uma doce guerreira!!! O Agostinho faz hemodiálise 5 vezes por semana durante 2h30. De modo que ele pode chegar em torno das 7 horas, porque não atrapalha os próximos turnos. A pressão dele é muito alta (20x11) e a técnica de enfermagem só pode ligá-lo com autorização médica. Tanto a Sra. Rita como o Agostinho usam a técnica de rotação de local das punções, o risco de infecção é menor e o braço fica com uns feios calombos. Tudo tem prós e contras. A Joana também é puncionada pela técnica buttonhole. Ela passou bem, mas sempre com a pressão baixa. Ela faz hemodiálise 3 vezes por semana durante 3 horas e meia. O Sr. Expedito usa cateter e nem sempre o cateter dele está com um fluxo bom. O machucado da perna dele melhorou. Nessa sessão, a sala ficou com 2 cadeiras vazias, ou seja, das 7 cadeiras/máquinas, só 5 foram utilizadas. A peculiaridade foi a nossa conversa sobre a eliminação da Juliana do BBB. Foi divertido ouvir a posição de cada um. Até os que não assistem o BBB, mas assistem a Globo e acabam assistindo às chamadas do programa, tiveram uma posição sobre o comportamento da Ana Paula e da Juliana. Hemodiálise também é cultura...hahaha. 



                                 
                   Buttonhole - foto tirada do braço da Helô Junqueira (o meu) em 25/2/2016

Na sexta-feira, eu cheguei na clínica e já estava clareando. Eu sentei na minha cadeira no 14º andar e, enquanto a técnica de enfermagem colocava o termômetro, o aparelho de pressão, a pulseira de identificação, garroteava o meu braço direito e puncionada os meus dois túneis, eu apreciava o lindo amanhecer. Eram 6h10 e a natureza dava um show de cores ao nascer do sol. Emocionante!!! Nós 4 (Joana, Sr. Expedito, eu e Sra. Rita) já tínhamos pesado, lavado o braço da fístula e estávamos sentados lado a lado esperando a nossa vez para sermos ligados à máquina. São 2 técnicas de enfermagem para 7 pacientes na minha sala. No momento, somos 5, porque 2 estão internados. Todos ligados e sem nenhum problema. Cerca de 7 horas, o Agostinho chegou e foi ligado. Às 7h20, chegou o café da manhã e este é um momento de integração. Acabou a hora do café.  As pressões foram medidas, a luz foi parcialmente desligada e alguns dormem tranquilamente. A melhor notícia foi o Pedro ter sido extubado e suspensa a sua sedação. O Sr. Tomás ainda estava internado. A sessão transcorreu bem e nesta sessão a pauta da conversa foi família: filhos, marido, país, irmãos, ciúmes, hábitos, brigas, doação, carinho, amor, diferenças...e percebemos como há pontos em comum em cada uma das famílias. A sessão acabou, a técnica devolveu o sangue, mediu a pressão, mediu a temperatura, conferiu o peso, cortou a pulseira de identificação e mais um dia se foi. Que ótimo que era sexta-feira e eu teria dois dias livres da máquina!





A hipertensão é a principal causa da doença renal crônica e, portanto, é o principal problema que leva à diálise no Brasil. Por isso, eu estou compartilhando uma noção básica publicada no site da Sociedade Brasileira de Hipertensão (http://www.sbh.org.br/geral/oque-e-hipertensao.asp):

Hipertensão, usualmente chamada de pressão alta, é ter a pressão arterial, sistematicamente, igual ou maior que 14 por 9. A pressão se eleva por vários motivos, mas principalmente porque os vasos nos quais o sangue circula se contraem. O coração e os vasos podem ser comparados a uma torneira aberta ligada a vários esguichos. Se fecharmos a ponta dos esguichos a pressão lá dentro aumenta. O mesmo ocorre quando o coração bombeia o sangue. Se os vasos são estreitados a pressão sobe.

Quais são as conseqüências da pressão alta?
A pressão alta ataca os vasos, coração, rins e cérebro. Os vasos são recobertos internamente por uma camada muito fina e delicada, que é machucada quando o sangue está circulando com pressão elevada. Com isso, os vasos se tornam endurecidos e estreitados podendo, com o passar dos anos, entupir ou romper. Quando o entupimento de um vaso acontece no coração, causa a angina que pode ocasionar um infarto. No cérebro, o entupimento ou rompimento de um vaso, leva ao "derrame cerebral" ou AVC. Nos rins podem ocorrer alterações na filtração até a paralisação dos órgãos. Todas essas situações são muito graves e podem ser evitadas com o tratamento adequado, bem conduzido por médicos.
Quem tem pressão alta?
Pressão alta é uma doença "democrática". Ataca homens e mulheres, brancos e negros, ricos e pobres, idosos e crianças, gordos e magros, pessoas calmas e nervosas.
A Hipertensão é muito comum, acomete uma em cada quatro pessoas adultas. Assim, estima-se que atinja em torno de, no mínimo, 25 % da população brasileira adulta, chegando a mais de 50% após os 60 anos e está presente em 5% das crianças e adolescentes no Brasil. É responsável por 40% dos infartos, 80% dos derrames e 25% dos casos de insuficiência renal terminal. As graves conseqüências da pressão alta podem ser evitadas, desde que os hipertensos conheçam sua condição e mantenham-se em tratamento com adequado controle da pressão.


10 mandamentos contra a pressão alta:

  • Meça a pressão pelo menos uma vez por ano.
  • Pratique atividades físicas todos os dias.
  • Mantenha o peso ideal, evite a obesidade. 
  • Adote alimentação saudável: pouco sal, sem frituras e mais frutas, verduras e legumes. 
  • Reduza o consumo de álcool. Se possível, não beba.
  • Abandone o cigarro.
  • Nunca pare o tratamento, é para a vida toda. 
  • Siga as orientações do seu médico ou profissional da saúde. 
  • Evite o estresse. Tenha tempo para a família, os amigos e o lazer.
  • Ame e seja amado.


        
    

Dalai Lama nos ensinou que amor, compaixão e preocupação pelos outros são verdadeiras fontes de felicidade. Então, vamos cuidar bem dos doentes, dedicando um pouco do nosso tempo para ouvi-los e confortá-los, e assim nos sentiremos felizes. 

"O sonho e a esperança são dois calmantes que a natureza concede ao ser humano." (Frederico I)

Com carinho,
Helô



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