sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Hold on

Olá, amigos!

Na segunda-feira, 19 de setembro de 2016, eu tive uma difícil e dolorida sessão de hemodiálise. Mas, como é do meu temperamento otimista e corajoso, vou aguentar firme (hold on) e acreditar que este epsódio foi isolado e não irá se repetir. 

Eu iniciei a hemodiálise em 8 de maio de 2013. No início, a médica e a enfermeira avaliaram as veias do braço onde tinha sido feita a fístula arterio-venosa e decidiram que iriam fazer a técnica de Buttonhole. Nesta técnica, as veias são puncionadas com agulha de corte no mesmo local, pela mesma profissional, por umas 12 vezes até a formação de um túnel. Daí então as punções serão feitas com agulha sem corte (Romba), preferencialmente pela mesma profissional, uma vez que a angulação das agulhas é fundamental para o sucesso das punções.

A hemodiálise é um tratamento substitutivo da função renal. De modo, que uma agulha é puncionada num local e faz a função arterial ( por onde o sangue sai do corpo) e a outra agulha é puncionada em outro local e faz a função venosa (por onde o sangue volta para o corpo). O sangue "sujo" sai do corpo passa por um filtro (função renal) e retorna ao corpo "mais limpo". Além disso, o sangue recebe uma solução de bicarbonato de sódio e o excesso de líquido acumulado no corpo é desprezado, uma vez que a maioria dos pacientes renais não urina e o líquido ingerido vai se acumulando no corpo. O líquido deve ser ingerido com muito controle, pois a máquina só deve tirar 1 litro por hora. Sendo certo que, se ingerirmos muito líquido, todo o volume não poderá ser retirado pela máquina e este acúmulo poderá encharcar os pulmões, levando a uma dificuldade respiratória e poderá prejudicar o funcionamento do coração. Claro que o procedimento é muito complexo e a minha explicação é simplista para que qualquer pessoa entenda.
 

                                   
                                    Foto: eu (Helô) numa sessão de hemodiálise


A máquina abaixo é a máquina que uso durante 4 horas por 3 vezes na semana .
                       
                                          
     

Normalmente, a técnica de enfermagem me punciona e tem êxito na primeira tentativa. Algumas vezes, ela tem alguma dificuldade e aí vem o sofrimento: umas vezes, ela tenta encontrar a veia sem tirar a agulha e a movimenta sob a pele (dói bastante), outras vezes troca a agulha e outra punção é feita (também doí porque o calibre da agulha é grande). No meu caso, por ser puncionada sempre nos dois mesmos pontos, a profissional só muda o local da punção após várias tentativas infrutíferas. Mas neste 19 de setembro de 2016, deu tudo errado e sofri muito.

Nas sessões de 12, 14 e 16 de setembro de 2016, a técnica de enfermagem não conseguiu puncionar o meu acesso venoso (o orifício mais distante do punho) na 1ª tentativa e procurou por 3 vezes a angulação correta sob a pele sem retirar a agulha. Deu certo, mas claro sempre há um trauma. Quando saí da sessão de 6ª feira (16/9/2016), eu percebi um endurecimento perto do local da punção. Coloquei gelo nos locais das punções na 6ª feira e bolsa de água morna, no sábado e no domingo. Mas não adiantou quase nada.

No dia 19 de setembro, 2ª feira, cheguei na clínica, como de costume, às 5h40. Fiquei na sala de espera, junto com alguns pacientes, aguardando a chamada após a sala ser liberada. Nos chamaram às 6h. Ao chegar na sala, eu logo mostrei o endurecido perto do acesso venoso para a enfermeira, para a médica e para a técnica de enfermagem. Achei que seria necessário a punção com agulha de corta para romper a região endurecida. Pesei, lavei o braço a ser puncionando e sentei na minha cadeira por volta das 6h10. A médica e a enfermeira foram avaliar o meu braço e decidir qual seria o procedimento. Aí começou o meu sofrimento!

A médica de ínício achou melhor não puncionar no acesso (túnel) venoso por estar muito entumecido. Então, a enfermeira puncionou 2 vezes acima do acesso venoso e nada. Resolveram puncionar no túnel venoso por 2 vezes com agulha de corte e nada. A médica puncionou numa veia perto do cotovelo e nada. A enfermeira voltou a puncionar por duas vezes entre o acesso venoso e arterial e nada. As veias "estouravam" ou o sangue não fluía e os locais puncionados inchavam. Gelo era colocado na região entre as punções e a região ficava muito dolorida. Eu estava exausta, nervosa por dentro e com muita dor no braço, mas insistia para que elas continuassem tentando, pois eu não queria ter que passar um cateter. Fui forte e corajosa. Já eram 9h30 e eu ainda não tinha sido ligada à máquina. Normalmente, eu sou ligada às 6h15 e desligada às 10h30. De repente, a médica me informou que tinha pedido para a enfermeira Rosanna, que fica na outra clínica do grupo, vir tentar me puncionar. Eu fiquei esperançosa. A enfermeira Rosanna chegou às 10 horas e me puncionou na 1ª tentativa. Que felicidade! Muito obrigada, meu Deus! Que alívio saber que não havia trombose na minha veia! 

Às 11 horas, toda a minha turma já tinha ido embora e eu continuava lá. A turma do 2º turno chegou e eu estava com o braço imóvel (a mão estava até formigando) com medo da agulha sair do lugar. 

Às 14h10, o tempo da minha sessão (4 horas e 10 minutos) terminou. Como rotina, a técnica de enfermagem mede a pressão arterial e os batimentos cardíacos depois de devolver o sangue e nos desligar da máquina. As agulhas continuam nas veias para poder administrar algum medicamento se necessário. Para minha surpresa, o meu batimento cardíaco deu 110 (normal é entre 60 e 80), sendo que eu nunca tinha tido este batimento tão acelerado. A técnica de enfermagem colocou o oxímetro no meu dedo que confirmou os batimentos acelerados. A médica foi chamada. Ela me auscultou para certificar se eu estava com arritmia. Mas felizmente não estava. Fez um eletrocardiograma na minha própria cadeira, que nada acusou. 

Os meus filhos estavam preocupados e o WhatsApp não parava. O meu marido já estava na antesala muito nervoso e preocupado. Muito difícil ver como sofre a família de um doente! Por isso a humanização dos profissionais da saúde com os familiares de um doente é primordial e deve ser sempre enfatizada e valorizada em qualquer treinamento dos profissionais da saúde!!!

Só fui liberada às 15h30. Portanto, eu fiquei 9 horas e 30 minutos na cadeira sem praticamente me mexer, uma vez que o braço direito fica imobilizado com as agulhas e o braço esquerdo fica com o aparelho de pressão, que também é ligado à máquina e auferia a minha pressão arterial a cada 30 minutos. Quando eu levantei da cadeira, eu sentia dor em todos os lugares do corpo.

O meu braço ficou horrível e muito dolorido. A foto abaixo mostra um pouco como ele ficou, mas ao vivo ele ficou muito pior.

                                     


                             


Nas sessões da 4ª e 6ª feira, a enfermeira da clínica pegou de primeira, observando o mesmo sentido e local que a enfermeira Rosanna tinha puncionando o meu acesso venoso, mesmo tendo ficado muito próximo do meu acesso arterial, o que não é recomendado. 


                                  


Na 6ª feira, 23/9/2016, coloquei gelo no meu braço o dia todo e no sábado e domingo, bolsa de água morna. Além de ter passado Hirudoid para clarear os roxos. Tenho muita fé e esperança que amanhã, 26/9/2016, tudo voltará ao normal e eu serei puncionada nos meus dois túneis!

A sessão deste dia 19 de setembro de 2016 foi a minha pior sessão desses 3 anos e 4 meses. O que nos mostra cada vez mais que cada dia é um dia e que aguentar firme (hold on) é o que temos que fazer sempre.

A expressão Hold on é usada cotidianamente pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF) e o significado é  Aguente firme, Mantenha-se firme, Siga em frente...Por isso, usei esta forte expressão para entitular este meu post, uma vez que nós, doentes renais crônicos, dependemos de uma máquina para sobreviver até a chegada de um sonhado transplante renal. HOLD ON!!!


"Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteja, mas continue em frente de qualquer jeito." (Martin Luther King)


Com carinho,

Helô



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