terça-feira, 20 de junho de 2017

Diálise peritoneal: guia para treinamento de pacientes e cuidadores

Olá, amigos!

Hoje, 20 de junho de 2017, eu vou explicar-lhes como funciona a diálise peritoneal, conforme a cartilha da minha clínica, CETENE, que pertence ao grupo Fresenius Medical Care/NephroCare, e que gentilmente me autorizou a compartilhar essas úteis e importantes informações.






A diálise peritoneal é um método de diálise que filtra o sangue removendo as toxinas e fluidos excedentes, usando um filtro natural do próprio corpo, a membrana peritoneal (peritôneo). Esta membrana fica  dentro do abdômen e envolve os órgãos: intestinos, estômago, fígado e baço, formando a cavidade peritoneal. 

Para utilizar o peritônio é necessário colocar um tubo flexível (parecido com um canudo), chamado cateter, na cavidade peritoneal. Este cateter é introduzido através de uma pequena cirurgia, sendo que uma parte deste cateter ficará dentro da cavidade abdominal e parte fora do abdômen.

O início do tratamento se dará quando, através deste cateter, for introduzido um líquido dentro do peritônio, chamado solução de diálise.

Como o peritônio é semelhante a um saco plástico, ele se expande e comporta determinada quantidade de líquido necessário para fazer a diálise.

A diálise peritoneal é um tratamento ambulatorial, o que significa que será realizado na casa do paciente.




As toxinas passam do nosso sangue para o soro que é colocado dentro do peritônio através dos pequenos orifícios do peritônio, que é uma membrana.

Já o líquido em excesso é retirado através de uma força exercida pela presença da glicose na solução de diálise. A glicose, assim como o sal, puxa água. Um exemplo fácil de visualizar é o sal colocado na carne, que puxa a água e está começa a escorrer.


  

Há 2 modalidades de diálise peritoneal: CAPD (Diálise Peritoneal Ambulatorial Contínua) e DPA (Diálise Peritoneal Automatizada)

1) A CAPD (Diálise Peritoneal Ambulatorial Continua) consiste na introdução de solução de diálise na cavidade peritoneal 4 a 5 vezes por dia. Essa solução permanece em contato com o peritônio em média 5 horas, proporcionando ao seu corpo uma retirada contínua de toxinas, que passam do sangue intoxicado para a limpa solução de diálise através do peritônio, que é uma membrana que serve como filtro.

Esse tratamento será realizado durante as 24 horas do dia, todos os dias da semana.

A solução de diálise deverá ser trocada por uma limpa a cada 5 horas para continuar limpando o sangue e fazendo o trabalho do rim.





2) A DPA (Diálise Peritoneal Automatizada) também consiste na introdução e na retirada da solução de diálise da cavidade peritoneal, porém com o auxílio de uma máquina chamada cicladora, geralmente utilizada no horário noturno.

A máquina realiza periodicamente a troca da solução de diálise enquanto impaciente dorme. O processo é automático e normalmente a solução de diálise é trocada de 3 a 5 vezes durante o tratamento.

Esse tratamento dura em média de 10 a 12 horas e deverá ser feito todos as noites. Pela amanhã, o paciente é desconectado da cicladora e poderá deixar na cavidade abdominal uma solução nova para continuar a diálise.






A diálise peritoneal tem 3 fases:
1ª) Infusão - é a entrada da solução de diálise na cavidade peritoneal. O tempo gasto é de 8 a 10 minutos.
2ª) Permanência - é o tempo que a solução de diálise fica na cavidade peritoneal. Vai depender da modalidade do tratamento.
3ª) Drenagem - é a saída da solução de diálise da cavidade peritoneal. Pode variar entre 10 a 20 minutos.

A cada troca da bolsa, o paciente deverá:
1) observar o aspecto do líquido drenado;
2) pesar o volume drenado e anotar;
3) desprezar o líquido drenado no vaso sanitário;
4) colocar as bolsas vazias e o equipo em saco plástico resistente e descartar em lixo comum.




A limpeza diária do orifício de saída do cateter deve ser feita com muito cuidado, sempre obedecendo às orientações da enfermagem, uma vez que a maioria das infecções pode começar neste local. A observação do aspecto deste orifício é importantíssima e qualquer alteração deve ser imediatamente relatada à unidade de diálise. Os principais sinais são:
1) Crostas: se existirem, você deve fazer o seguinte:
a) amolecê-la durante o banho com sabão neutro,
b) retirar com a gaze sem forçar, caso estejam muito grudadas,
c) cobrir com uma gaze umedecida com água e sabão neutro por 10 minutos.
2) Sangramento: significa que o cateter provavelmente foi tracionado e feriu o orifício de saída do cateter.
Faça o curativo e entre em contato comia unidade de diálise.
3) Infecção: vermelhidão, calor, dor e presença de secreção são sinais de infecção.




O local onde as trocas serão realizadas deve ser muito limpo e NÃO pode ter:
- mofo,
- ventilador ou ar condicionado ligado,
- portas e janelas abertas, entrada de pessoas no momento da troca,
- presença de animais,
- excesso de objetos.

Para a realização das trocas das bolsas deve haver por perto:
- uma pia onde você fará a lavagem das mãos,
- uma pequena mesa de um material que possa ser limpo com álcool (tipo fórmica, vidro, mármore ou plástico liso),
- um suporte para pendurar a bolsa,
- materiais a serem utilizados no procedimento,
- uma poltrona ou cadeira.
OBS: Lembre-se de manter portas e janelas fechadas.




A solução de diálise deve ser usada na temperatura ambiente ou aquecida.

No inverno, usar a solução de diálise em temperatura ambiente pode ser desagradável, pois, além da sensação de frio, pode ocorrer desconforto ou dor abdominal na infusão do líquido, portanto a solução deve ser aquecida. 

Devemos aquecer a bolsa utilizando apenas calor seco:
- estufa com resistência elétrica,
- placa de aquecimento,
- caixa de madeira com lâmpada elétrica.

Lembre-se de que o tempo de aquecimento varia entre 20 e 40 minutos e que a bolsa muito quente pode causar dor, mal-estar e até mesmo hipotensão.

Se a água utilizada na sua região for de poço, você precisará de cuidados extras para torná-la apropriada para lavar às mãos antes da troca da bolsa ou montagem da cicladora.

Você deverá colocar uma pastilha d cloro (comprada em casas que vendem produtos para piscina) em um galão de 20 litros de água.

Recomenda-se a compra de um galão de 20 litros de água mais o suporte para esse galão.

É simples, basta encher o galão que comporta 20 litros com a água da torneira da sua casa e colocar 1 ou mais pastilhas de cloro. O cloro elimina os germes.





A lavagem das mãos para a realização da diálise peritoneal é muito importante para evitar infecção. Esta lavagem deve durar 5 minutos e seguir todas as orientações da foto abaixo.





Existem 3 tipos de bolsas de diálise diferentes, que são identificado de acordo com a concentração de glicose: 1,5%, 2,3% e 4,25%.

As bolsas com 1,5% de glicose, por serem as mais utilizadas, devem ser guardadas separadas das outras para facilitar a identificação e evitar o uso incorreto.

As bolsas com 2,3% e 4,25% de glicose são identificado com cores distintas e somente devem ser usadas conforme a prescrição médica.

Bolsas amassadas, rasgadas e molhadas não devem ser utilizadas.




Após a troca da bolsa, o liquido drenado deverá ser desprezado no vaso sanitário.

As bolsas vazias devem ser enroladas, colocadas em saco de lixo preto e descartadas em lixo comum.

O material da diálise deve ser guardado em local seco e fresco. Recomenda-se, para evitar furos ou deteriorações das bolsas, que as bolsas permaneçam dentro das caixas e que estas permaneçam fechadas.




A maior complicação da diálise peritoneal é a peritonite, que é a infecção que ocorre na membrana peritoneal (ou seja, no peritônio), acusada pela entrada de germes.

As causas da peritonite são:
- erro da técnica da troca de bolsa ou da técnica de conexão dos equipes da cicladora,
- furo ou corte na extensão ou no cateter,
- lavagem inadequada das mãos,
- infecção no local de saída do cateter.

Os sinais e sintomas de uma peritonite são:
- LIQUIDO TURVO: ao realizar a drenagem, observa-se que o líquido na bolsa de drenagem está turvo ( ou seja, o líquido deixa de ser transparente). Se você colocar um papel escrito embaixo da bolsa, você não conseguirá ler as letras.
- DOR ABDOMINAL: é comum ser mais forte durante a drenagem e no início da infusão.
- FEBRE/NÁUSEA/VÔMITO/FALTA DE APETITE podem estar presentes ou não 

Quando há peritonite, a drenagem fica mais demorada e pode surgir inchaço nos pés, pernas e rosto por causa da redução do volume drenado.

O tratamento da peritonite inclui a administração de antibióticos. Que tanto podem ser colocados na bolsa com o líquido a ser infundido como administrados por via endovenosa. 

ATENÇÃO: A bolsa em que você identificou a peritonite deve ser levada para o hospital ou laboratório para a realização de exames. Se já for noite, guarde-a em geladeira. NUNCA ponha no congelador.




Quando os rins não funcionam de forma eficiente, a produção de urina fica reduzida, o que provoca o acúmulo de líquidos no organismo.

O principal fator que estimula a ingestão de água é o SAL. Portanto, a melhor maneira de controlar a quantidade de água que bebemos é a redução do consumo de sal. É o sal que provoca a sede. Podemos dizer que o sal é uma esponja que puxa água.

O sal é um grande "veneno" que provoca sede, retém líquidos e eleva a pressão arterial.

Uma pessoa em diálise pode ingerir até 2  gramas de sal por dia, o que equivale à quantidade medida por uma colher de chá.

Mas não pense apenas na colherzinha de chá! Pense que 80% do sal que consumimos já está nos alimentos.

A quantidade de líquido que uma pessoa em diálise pode tomar é o volume da urina registrado somado ao total de líquido que perdemos se perceber (suor, fezes etc), que é calculado multiplicando o peso corporal por 10. Assim, se uma pessoa pesa 60 kg e urina 300 ml por dia, ela poderá tomar 900 ml por dia.

60 (peso)x10 = 600 + 300 (volume de urina por dia) = 900




As consequências ao longo do tempo em função da retenção de líquidos são:

1) Edema Periférico
É o inchaço que aparece nas pálpebras ao acordar, podendo estar também nas pernas e tornozelos,
Se há afundamento da pele quando apertamos com o dedo o tornozelo, isso significa que a pessoa tem de 3 a 4 kg acumulados. O líquido acumulado não é muito bem percebido, porque está distribuído em todos os órgãos do corpo.

2) Edema no pulmão
Às vezes o coração não dá conta e esse líquido se acumula nos pulmões, ocasionando falta de ar. Esse excesso de líquidos pode levar ao famoso edema agudo de pulmão, que pode colocar a vida da pessoa em risco.

3) Complicações Cardiovasculares 
O coração precisará trabalhar muito para bombear o líquido em excesso. Vamos entender o que a água faz no coração.
Quando um jovem vai para a academia levantar peso, ele quer aumentar o tamanho dos músculos, ficar "saradão", como dizem. Bombear água em excesso causa no coração o mesmo efeito de levantar peso, aumentando o tamanho do músculo cardíaco. O problema é que o coração não fica saradão, fica acabadão.
O músculo do coração fica aumentado de tamanho, mas com o tempo perde a força para bombear o sangue. É a partir daí que surgem as complicações: infarto, coração grande e por aí vai...




4) Hipertensão Arterial
A pressão arterial nada mais é que a medida da resistência maxima é mínima dos vasos sanguíneos à passagem do sangue impulsionada pelo coração. Sendo assim, o controle da pressão está diretamente relacionado à ingestão de sal é ao acúmulo de água, pois, se existe um aumento do volume de líquidos circulando nos vasos sanguíneos e estes permanecem na mesma quantidade e tamanho? Então haverá uma maior resistência à passagem do sangue. Com isso, a pressão arterial se elevará. 


Quando a pessoa faz algum tipo de diálise, a equipe de nefrologia determina qual é o peso seco para o paciente. Peso seco é o peso normal, sem retenção de líquidos, com o qual a pessoa não apresenta sinais de edema (inchaço), a pressão arterial está normal e o pulmão livre de água.

ATENÇÃO: Muitas pessoas em diálise não precisariam tomar remédios para controlar a pressão arterial se comessem menos sal e ingerissem menos líquidos.




Como já dissemos, as soluções de diálise peritoneal tem concentrações de glicose de 1,5%, 2,3% e 4,25%. 

Quanto maior a concentração de glicose, maior será a quantidade de água retirada, mas não se pode abusar das bolsas hipertônicas, porque glicose é açúcar.

O açúcar em excesso aumenta a glicose do sangue e faz engordar. Quem determina a quantidade diária destas bolsas é o médico.



Felizmente, o serviço de diálise peritoneal funciona muito bem no Brasil. O paciente é direcionado a uma clínica de diálise, lá recebe todas as orientações, conta com uma equipe multiprofissional, passa a comparecer na clínica mensalmente para coleta exames laboratoriais e avaliação,  conta com atendimento emergencial 24 horas e tudo mais. O material necessário é entregue na residência dos pacientes. A diálise peritoneal é um tratamento muito seguro e eficaz, desde que o paciente faça a sua parte!


"O destino lhe atira uma faca. Cabe a você decidir se a pegará pelo cabo e a usará a seu favor, ou se a pegará pela lâmina e se cortará." (Provérbio Chinês)


Com carinho,

Helô



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