quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

HemoFamília #16 - Diabetes

Olá, amigos!

Hoje, 20 de fevereiro de 2016, eu vou iniciar a 2ª temporada da série HemoFamília, relatando o dia a dia da clínica para qual mudei em março de 2015. Vou falar-lhes sobre a semana de 15 a 19 de fevereiro de 2016 na Clínica Travessia . Escolhi este nome fictício porque, se Deus quiser, farei um transplante renal e me livrarei da dependência da máquina de hemodiálise. De modo que eu estou nesta clínica apenas atravessando um difícil período na minha vida. Os demais nomes também são fictícios e inspirados em nomes de Santos da Igreja Católica.

Cada episódio semanal desta série corresponde a 3 sessões de hemodiálise, mais especificamente às de 2ª, 4ª e 6ª feiras. Assim, eu o publicarei na 6ª, sábado ou domingo. Claro que isso não é uma regra, mas uma diretriz para o momento.

Os 7 pacientes que fazem hemodiálise na minha sala, mais alguns da outra sala e de outros turnos, mais médicos, enfermeiras, técnicas de enfermagem, o pessoal da limpeza e outros membros da equipe, acabam formando uma família, na qual todos acompanham os problemas uns dos outros, compartilham sofrimentos, torcem pela recuperação alheia, alegram-se quando alguém faz transplante e sofrem quando alguém falece. É difícil de explicar, mas a habitualidade da convivência com pessoas tão diferentes em situações tão parecidas, nos tornam uma família e isso é muito bom,  confortante e desperta a nossa compaixão. "A compaixão sofre com o sofrimento do outro, enquanto a doçura se recusa a produzi-lo ou aumentá-lo." (André Comte-Sponville)

     
  
Os 7 pacientes que fazem hemodiálise na minha sala são:

(1) Agostinho é um jovem senhor de 63 anos, inteligente, calmo e sensato, que faz hemodiálise há 10 anos; 
(2) Pedro é um jovem senhor de 45 anos, alegre, comunicativo, amoroso, mas muito rebelde no tratamento, que faz hemodiálise há uns 6 anos; 
(3) Expedito é um senhor de 85 anos, que faz hemodiálise há 8 anos. Ele é muito sério, calado e sente muito frio; 
(4) Joana é uma uma jovem senhora de 50 anos, que faz hemodiálise há uns 3 anos. Ela é muito quieta e reservada. 
(5) Rita é uma senhora de 71 anos, muito delicada, educada e gentil, que já fez diálise peritoneal e passou a fazer hemodiálise após uma infecção peritoneal; 
(6) Tomás é um senhor de 75 anos, muito educado, amável e discreto, que já fez um transplante que durou 27 anos;
(7) eu, Helô, tenho 54 anos e faço hemodiálise há 2 anos e 9 meses. Sou alegre, otimista e comunicativa.

Na segunda-feira, a sessão transcorreu tranquila. Tivemos a triste notícia que o Pedro foi para UTI. Ele foi internado em 12 de janeiro devido a uma ferida no pé que infeccionou. Ele é diabético e, como sabemos, a cicatrização desses pacientes é mais lenta. Estou rezando pela pronta recuperação dele. A Sra. Rita também é diabética e tem pressão alta, de modo que, no final da hemodiálise, ela tem que segurar por uns 10 minutos os dois acessos para ajudar na coagulação. Nesta sessão, vazou muito sangue e foi necessário trocar três vezes os curativos. O sr. Expedito completou 85 anos e comemoramos o seu aniversário. O Agostinho tem pressão alta (19x10) e, mesmo após a hemodiálise, a pressão dele continua alta. Todas as segundas-feiras, ele recebe glicose na veia, porque se sente mareado. Ele também tem que segurar firme os dois acessos no término da hemodiálise para evitar sangramento. O sr. Tomás teve calafrios durante a sessão, mas não teve febre, e foi coletada uma cultura. A Joana tem pressão baixa (9x5) durante toda a sessão, mas se sente bem e vai embora assim. Eu tive a pressão sistólica (pressão máxima) um pouco mais alta do que de costume (16x6), mas passei bem durante toda a sessão. O pressão normal e ideal é 12x8. Eu assisti TV, conversei, joguei Candy Crush, usei o WhatsApp, respondi perguntas no meu blog e, como sempre, rezei. A sessão passou rápida!

Na quarta-feira, nós tivemos uma triste notícia sobre a saúde do Pedro. Ele teve que amputar o pé e uma parte da perna, em decorrência da grave infecção na ferida do seu pé. Esta ferida ocorreu há uns 6 meses. Ele foi internado anteriormente para fazer uma raspagem. Saiu do hospital, fazia curativos diários e sessões em câmara hiperbárica. Porém, em 12 de janeiro de 2016, ele foi internado para combater a grave infecção que ali se instalou, mas infelizmente foi necessário a amputação do pé e parte da perna para preservar a vida. Ele tem diabetes, que dificulta a cicatrização. Que Deus lhe dê força para superar este difícil momento. No restante da sessão, tudo foi bem. A nefrologista conversou com cada um dos pacientes sobre o resultado dos exames mensais. A hemocultura do sr. Tomás mais uma vez deu negativa, apesar dele continuar a ter calafrios durante as sessões de hemodiálise. Ele me disse que já fez mais de 20 hemoculturas em variados laboratórios e o resultado dá sempre negativo. A única alteração que deu no meu exame de sangue foi a vitamina D, que está baixa. A doutora me prescreveu 1 comprimido de Addera D3 50.000 uma vez por semana durante 4 semanas e depois 1 comprimido, 1 vez por mês. Eu paguei R$ 90,00 a caixa com 4 comprimidos. Achei muito caro. A sessão foi triste pela notícia do Pedro.

Vou falar-lhes um pouco sobre o diabetes. O diabetes é uma síndrome metabólica de origem múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina exercer adequadamente seus efeitos, causando um aumento da glicose (açúcar) no sangue. O diabetes acontece porque o pâncreas não é capaz de produzir o hormônio insulina em quantidade suficiente para suprir as necessidades do organismo, ou porque este hormônio não é capaz de agir de maneira adequada (resistência à insulina). A insulina promove a redução da glicemia ao permitir que o açúcar, que está presente no sangue, possa penetrar dentro das células para ser utilizado como fonte de energia. Portanto, se houver falta desse hormônio, ou mesmo se ele não agir corretamente, haverá aumento de glicose no sangue e, consequente, o DIABETES. Principais sintomas do diabetes tipo 1: vontade de urinar diversas vezes, fome frequente, sede constante, perda de peso, fraqueza, fadiga, nervosismo, mudanças de humor, nâusea e vômito. Principais sintomas do diabetes tipo 2: infecções frequentes, alteração visual (visão embaçada), dificuldade na cicatrização de feridas, formigamento nos pés e furúnculos. (informações retiradas do site www.minhavida.com.br). Esta doença atinge cerca de 13 milhões de brasileiros e é a 2ª maior causa de doença renal crônica no Brasil. De acordo com a Dra. Carmen Tzanno, nefrologista e presidente da SBN (Sociedade Brasielira de Nefrologia) é importante que o diabético realize o acompanhamento periódico da função renal, já que a presença de proteína na urina é um dos primeiros sinais de que os rins estão sendo acometidos pela doença. Os diabéticos devem acompanhar a função renal e fazer periodicamente exames laboratoriais, como o de sangue para dosar a creatinina, o exame de urina para detectar a presença de proteína e o ultrassom renal. As principais consequências do diabetes não tratados são insuficiência renal, amputação de membros, cegueira, doenças cardiovasculares (infartos do miocárdio e acidentes cardiovasculares cerebrais, mais conhecido como derrames cerebrais). 


Na sexta-feira, a sessāo transcorreu bem. A doutora abaixou o meu peso seco. Eu ganhei 1 litro de  4ª feira para hoje, minha pressão foi 13x5 no início da hemodiálise e 13,5x6 após devolver o sangue. A minha temperatura estava 35,2 °C. A minha máquina ficou alarmando e informando que a pressão do acesso venoso estava alta. A técnica precisou mexer na agulha e tudo normalizou. O sr. Tomás queixou que sentiu muito cansaço e enjoado em casa. Ele está fazendo radioterapia como tratamento da retirada de um tumor no rosto. Ele teve calafrios no final da sessão e a doutora mandou desligar a máquina, uma vez que faltava apenas 15 minutos para completar as 4 horas e terminar a sessão. A Sra. Rita chegou um pouco atrasada. Ela mora em um sítio em Ibiúna - SP. A sua pressão iniciou 17x9  e permaneceu alta durante toda a sessão. Ela é bem magra, mas ganha cerca de 3 litros entre uma sessão e outra. Ela senta ao meu lado. Um paciente do 3º turno veio fazer hemodiálise na máquina do Pedro, que fica na minha frente. O Sr. Expedito usa cateter e passou bem. Ele senta ao meu lado. Ele chega de cadeira de rodas trazido pela filha e vai embora de Atende (transporte gratuito criado em 1996 pela Prefeitura de São Paulo, destinado a levar porta a porta as pessoas com deficiência física com alto grau de severidade e dependência. Funciona das 7h às 20h, de segunda-feira a domingo. Um bom serviço público!). A pressão do Agostinho ficou alta (19x10) do começo ao fim da sessão, mas ele não sente qualquer sintoma. Ele senta ao lado do Pedro, na frente da Sra. Rita e na minha diagonal, o que facilita a nosso bate-papo. A Joana senta numa ponta da sala e a Sra. Rita na outra ponta. São 5 máquinas enfileiradas de um lado da sala e 2 do outro lado. Ela teve pressão baixa do início ao fim da sessão, mas ela nada sente. Foi uma sesão movimentada, porque enfermeiras do grupo Fresenius foram aprender o funcionamento da máquina!

A semana foi muito triste por causa da amputação de parte da perna do Pedro.

 Hoje, 20 de fevereiro de 2016, eu fui até o hospital onde o Pedro está internado para encontrar os pais dele e prestar a minha solidariedade. Lá chegando, encontrei os pais dele e eles me receberam muito bem, além de insistirem para que eu fosse visitar o Pedro. Eu e a Sra. Maria Tereza, mãe do Pedro, fomos até a UTI. É um outro conceito de UTI. São quartos individuais muito bem equipados . Ele estava sedado e entubado. A enfermeira me disse que quando ele fica consciente, ele fica nervoso e quer arrancar o tubo da respiração artificial, por isso a sedação. Eu falei para ele sobre a falta que ele faz nas nossas sessões de hemodiálise e algumas coisas mais. Depois de uns 10 minutos, eu fui embora com uma angústia no peito. Na recepção, tinham várias pessoas que foram visitá-los. Ele é realmente muito querido e eu gosto muito dele!
                                        
     

Vamos cuidar bem dos doentes e dedicar um pouco do nosso tempo para confortá-los!

"O sonho e a esperança são dois calmantes que a natureza concede ao ser humano." (Frederico I)

Com carinho,
Helô



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