segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Transplante - 1ª chamada

Olá, amigos!

Agora vou falar-lhes sobre a ansiedade ao ser chamada para um eventual transplante.

Era madrugada do dia 23 de novembro de 2013, primeiras horas de sábado, mais precisamente à 1h40. O telefone tocou insistentemente até cair na secretária eletrônica. Eu e meu querido marido, Laerte, pulamos da cama assustados para atendê-lo, mas não conseguimos. Ficamos preocupados, pois a esta hora da madrugada vem sempre uma notícia ruim. Fomos até a sala, onde temos o telefone com identificador de chamada, para verificarmos o número chamado. Era um número desconhecido. Melhor! 

Passados uns 10 minutos, o telefone tocou novamente. Eu o atendi no quarto e o meu marido, na sala. A pessoa do lado de lá da linha identificou-se como enfermeiro Jerônimo, do Hospital do Rim. O meu coração disparou e eu fiquei na dúvida se estava acordada ou sonhando. Gentilmente, o enfermeiro faz inúmeras perguntas, como: se eu tomava determinados remédios, se tomei antibiótico recentemente, se tive febre nesses dias, qual era o meu peso e a minha idade, se eu tinha diabetes, HIV, hepatite, hipertensão ou alguma outra doença, se eu tomei bolsa de sangue no último mês, se eu tinha interesse em receber um rim e outras perguntas que eu não me recordo mais. Ele me falou, então, que tinha um rim compatível comigo e que um enfermeiro me telefonaria na parte da manhã para maiores detalhes. Fiquei com o coração na boca de tanta emoção!!! Então, eu rezei, rezei, rezei e rezei, sempre pedindo para que se fosse a minha hora, Ele me ajudasse para que o transplante fosse bem sucedido. Agradeci muito por já estar vivendo este momento!!!


                                                  fonte: Nossa Senhora Desatadora dos Nós

Eu e Laerte acordamos cedo, apesar de não ter a certeza se nós dormimos, tomamos café da manhã e ficamos aguardando o telefone tocar. Os meus filhos estavam viajando e ficamos na dúvida se deveríamos ou não avisá-los. Resolvemos que só os avisaríamos se eu fosse a beneficiada para receber este rim.

Por volta das 11h, do sábado 23 de novembro de 2013, o telefone tocou e a uma enfermeira me deu as orientações básicas. Eu deveria me dirigir ao Hospital do Rim, levando apenas uma necessaire com objetos de higiene pessoal, me apresentar na portaria como uma das possíveis receptoras de um rim, levar todos os meus exames, a carteirinha do SUS, a do convênio, meu RG e meu CPF. Por fim, me orientou que eu deveria ir acompanhada. Assim o fiz!

Chegamos no Hospital muito rápido. O Laerte foi assinar uns documentos e eu fui encaminhada para o 6º andar. Chegando lá, percebi que já tinham mais 3 pessoas candidatas a este rim. Logo, a enfermeira me chamou para fazer alguns exames: eletrocardiograma, RX do tórax, exame de sangue, além de medir os meus sinais vitais (pressão, temperatura, pulsação e batimentos cardíacos). Fez algumas perguntas que iam sendo anotadas numa ficha, anotou o meu peso seco e foi me pesar. Estava tudo bem!

Voltei para a sala de espera dos possíveis receptores, que por volta das 13 horas, já eram 7 (sete). Ficamos conversando e sabendo dos problemas renais de cada um. Pessoas muito diferentes, mas com a mesma expectativa e necessidade: um rim. É impossível não se solidarizar com a dor do próximo!

Uma delicada médica chamada Tatiana me chamou para uma consulta e um histórico completo da minha vida foi feito. Ela me examinou clinicamente e me explicou sobre o transplante e o funcionamento da Secretaria da Saúde. Neste momento, ficamos sabendo que tinham 4 (quatro) rins disponíveis, mas vários receptores em alguns hospitais. Nos contou que uma lista dos hospitais beneficiados para o recebimento desses rins seria expedida pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo por volta das 18 horas. Vários são os critérios levados em conta pela Secretaria de São Paulo em relação aos pacientes chamados, tais como: dificuldade de acesso venoso, tempo de hemodiálise, painel alto, idade, estado de saúde e outros. Ela analisou todos os meus exames e me considerou apta para ser uma receptora.

O tempo de espera foi muito longo, mas a expectativa de ser eu a beneficiada me acalmava e me enchia de esperança de poder ter uma vida melhor. Rezei e coloquei nas mãos de Deus esta decisão.


                                                                  fonte: mensagens

O sentimento de felicidade é inexplicável. Senti a possibilidade real de ter uma vida melhor. A simples possibilidade de voltar a ser dona do meu tempo me deu muita paz. Seria uma glória deixar de fazer hemodiálise, poder viajar, poder comer com menos restrição, poder beber mais de 500 ml., voltar a urinar. Meu Deus, foi muita felicidade!!!

Eu e meu querido Laerte ficamos no hospital por volta de 8 horas. Enfim, às 20 horas, a lista da Secretaria da Saúde foi divulgada e três hospitais foram beneficiados, sendo que 2 rins seriam para o Hospital do Rim, onde eu vou ser transplantada. O meu coração quase saiu do peito de tanta ansiedade. Neste momento, só eu e mais duas pessoas aguardávamos um rim no Hospital do Rim, os demais foram dispensados. A médica informou que a Sra. Maria era a primeira da lista, devido a quase inexistência de acesso para a realização de hemodiálise. Realmente, eu fiquei feliz por ela, pois a sua condição de saúde estava muito precária. Em seguida, falou que o segundo da lista era o Sr. Ernando, que tinha painel alto e estava fazendo hemodiálise há 9 anos. Por incrível que pareça, eu não fiquei triste, mas muito esperançosa de que a qualquer momento eu poderei receber um rim. Foi muito justo!    

Na segunda-feira, fui fazer hemodiálise normalmente. Pensei muito e resolvi contar o ocorrido para poucas pessoas, pois, como em qualquer família, a inveja existe e causa muita dor.

Fui uma privilegiada, pois fui chamada para receber um rim após 6 meses de hemodiálise. Há pessoas na minha clínica que fazem hemodiálise há anos e nunca foram chamadas. Realmente, a compatibilidade entre o doador e o receptor é o mais importante!

O que ficou de tudo isso, foi a certeza de que nunca podemos perder a fé e a esperança, porque o tempo a Deus pertence e por isso temos que estar sempre preparados. Foi um sábado maravilhoso!!!


"Se quiser triunfar na vida, faça
da perseverança, a sua melhor amiga;
da experiência, o seu sábio conselheiro;
da prudência, o seu irmão mais velho;
e da esperança, o seu anjo guardião."
                             (Joseph Addison)



Vamos nos cuidar para estarmos sempre preparados para recebermos o que desejamos!!!


Com carinho,

Helô


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terça-feira, 5 de novembro de 2013

HemoFamília #10 - Mudança

Olá, amigos!

Agora vou falar-lhes sobre outra semana na Clínica Maldivas. Escolhi este nome, porque, se Deus quiser, farei um transplante renal e irei conhecer esta ilha paradisíaca. Os demais nomes também são fictícios e inspirados em nomes bíblicos, pois a fé passa a ser o nosso norte.

Cada episódio semanal desta série corresponde a 3 sessões de hemodiálise, mais especificamente às de 6ª, 2ª e 4ª feira. Assim, eu a publico na 4ª ou 5ª feira. Claro que isso não é uma regra, mas uma diretriz para o momento.

Os aproximados 30 pacientes que fazem hemodiálise no meu turno, mais alguns de outros turnos, mais os médicos, as enfermeiras, os técnicos de enfermagem, o pessoal da limpeza, o repositor de material, o técnico das máquinas, as recepcionistas e outros, acabam formando uma família, na qual todos acompanham os problemas uns dos outros, compartilham seus sofrimentos, torcem pela recuperação alheia, alegram-se quando alguém faz transplante e sofrem quando alguém falece. É difícil de explicar, mas a habitualidade da convivência com pessoas tão diferentes em situações bem parecidas, nos tornam familiares e isso é muito bom e confortante.


                                                                    fonte: Psiconlinebrasil


Na minha sala de hemodiálise tem 4 máquinas e, portanto, 4 pacientes. Eu comecei a fazer HD nesta sala em 10 de junho de 2013 e sempre foram os mesmos pacientes. Tudo mudou nessa semana!

A primeira mudança foi a do Sr. Mateus (73). Homem quieto, educado, sereno e muito atento. Sempre chegava cedo acompanhado da prestativa cuidadora Neuza. Ele é um comerciante do Brás, em São Paulo, com uma boa condição financeira. O seu convênio médico era há muitos anos a Golden Cross, que tinha convênio com a nossa clínica Maldivas, mas foi comprada pela UNIMED, a qual não tem convênio com a nossa clínica. Ele poderia permanecer na nossa clínica e passaria para as salas do SUS, que tem algumas diferenças das de convênios. Porém, ele achou um absurdo pagar por tantos anos um convênio médico e, agora que ele precisava usá-lo, simplesmente abrir mão. Ele procurou outra clínica e nós ficamos tristes, pois a convivência com ele era muito agradável e tranquila. Há 2 sessões a cadeira dele está vazia e o nosso coração também. Incrível como num ambiente de dor e de luta as pessoas torcem sinceramente umas pelas outras e se tornam tão ligados em tão pouco tempo. Boa sorte, Sr. Mateus, estamos sentindo a tua falta!!!

A segunda mudança foi a do Lucas (67). Homem espirituoso, generoso, educado, comunicativo e muito alegre. Ele sentava ao meu lado e nós dávamos muita risada com as coisas do dia-a-dia. Ele é um baiano descendente de espanhol, com olhos claros e pele muito alva. Foi um conhecido e premiado coreógrafo. Ele conhecia muita gente da clínica, pois ele fez 3 anos de hemodiálise, ficou 4 anos transplantado e estava de volta à clínica há 2 anos. O período da manhã, das 11 às 14h10, passava muito rápido, pois a técnica de enfermagem Ana é sempre a mesma e eles tinham muita afinidade. O turno da tarde, das 14h10 às 16h, era agradável dependendo da técnica de enfermagem, pois todos os meses elas mudam. A boa notícia é a de que ele foi transplantado no último sábado, 2 de novembro. Todos na clínica estavam muito felizes. Que Deus te abençoe, meu querido amigo! Volte a ser livre e viva intensamente toda a tua liberdade. Você merece, pois já sofreu muito!!!

Eu cheguei normalmente na segunda-feira, 4 de novembro, e com novidades para contar ao Lucas. Entrei na sala para lavar a fístula, pegar gases e soro fisiológico para umedecer os túneis. Assim que adentrei a sala, a Ana, com um enorme sorriso, me perguntou se eu sabia da novidade. Eu respondi que não e nem imaginava o que ela iria me contar. Ela então me disse que o Lucas tinha sido transplantado com sucesso no último sábado. Eu fiquei tão feliz que comecei a chorar de emoção. Nós sabemos que isto pode acontecer, mas nunca sabemos quando. Fiquei muito feliz e, mesmo sabendo que ela ainda estava na UTI, eu lhe mandei uma mensagem de texto. Senti muito a falta dele durante toda a HD, mas a causa é nobre e valeu a pena. As mudanças são sempre difíceis, mas nos acostumamos com tudo na vida!

O Lucas faz aniversário amanhã, 6 de novembro, e Deus lhe deu o melhor presente que ele poderia desejar. Parabéns, amigo, e muitas felicidades com este rim novo!!!

A minha sala que tinha os mesmos 4 pacientes desde que lá cheguei, agora está vazia. Restou eu e o Sr. Marcos (92) que, com a graça de Deus para ele, dorme a sessão de HD toda. Estou na expectativa de quem serão os próximos 2 pacientes. Enquanto isso, vou usar o meu fone de ouvido ligado ao iPad e assistir séries ou filmes para o tempo passar, uma vez que não consigo nem dar um simples cochilo.

Nós nos acostumamos com as rotinas. Elas nos ajudam a sobreviver já que temos os nossos riscos diminuídos quando estamos em terrenos conhecidos. Mas as mudanças muitas vezes são necessárias e temos que ter coragem para enfrentá-las.

         
TEMPO (Fernando Pessoa)
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.



                                                                fonte: voce-tem-medo-de-mudar


"Cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre." (Charles Chaplin)

Foi uma ótima semana!

Estamos todos lutando pela vida com muita fé e esperança, apesar das inúmeras limitações e dificuldades!

Boa semana a todos!!!

Amigos, venham embarcar comigo nesta jornada da vida real!!! Bem-vindos!!!


"Pobre de quem teve medo de correr os riscos. Porque este talvez não se decepcione nunca, nem tenha desilusões, nem sofra como aqueles que têm um sonho a seguir. Mas quando olhar para trás - porque sempre olhamos para trás - vai escutar seu coração dizendo: "O que fizeste com os milagres que Deus semeou por teus dias? O que fizeste com os talentos que teu Mestre te confiou? Enterraste fundo em uma cova, porque tinhas medo de perdê-los. Então, esta é a tua herança: a certeza de que desperdiçaste sua vida." (Paulo Coelho)


Não tenha medo das mudanças! Confie! Arrisque-se! E seja feliz!!!


Com carinho,

Helô



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