quarta-feira, 28 de agosto de 2013

HemoFamília #1 - apresentação

Olá, amigos!

Agora vou falar-lhes sobre os fatos reais que ocorrem na clínica que eu faço hemodiálise. Os nomes dos pacientes e dos profissionais citados são fictícios, apenas o meu é real. Procurarei resumir os acontecimentos em um post semanal, por isso irei numerá-lo.

Como este é o primeiro post da série que terminará quando eu fizer transplante renal, vou fazer uma breve apresentação.

A clínica que eu faço hemodiálise fica na cidade de São Paulo, na região central. Vou chamá-la de Clínica Maldivas. Ela tem 5 salas para hemodiálise, sendo que cada uma comporta um número diferente de pacientes, e uma sala para diálise peritoneal. A primeira sala que eu fiquei tinham 9 pacientes e a sala que estou agora tem 4 pacientes. De modo que eu falarei, em princípio, sobre os fatos que envolvem 9 pacientes, que são os que mais tenho contato, sendo 4 da minha sala e 5 da outra.

Eu iniciei a hemodiálise em 8 de maio de 2013. Portanto, há quase 4 meses eu vou até a clínica 3 vezes por semana e fico por lá mais de 4 horas. Já fiz 48 sessões e é impossível, após este tempo, não me familiarizar com as pessoas e seus problemas, por isso o nome da série que inicio hoje.


                                                                fonte: Psiconlinebrasil

Os nomes fictícios dos pacientes e dos profissionais da clínica optei por nomes bíblicos, pois acredito que somos todos uns missionários incansáveis em busca de uma vida melhor.

Neste momento, vou simplesmente citar os nomes de algumas pessoas, que serão sobre as quais mais falarei.

Bom, como disse no início, na minha sala há 4 pacientes: Mateus (73), Marcos (91), Lucas (67) e eu (52). A técnica de enfermagem do turno da manhã é a Ana e a da tarde, a Eva.  A médica responsável pelos pacientes do nosso turno é a Dra. Débora, que vai nas quartas-feiras, e os demais médicos que nos atendem são Dr. Paulo, Dra. Ester, Dra. Raquel e Dra. Abigail. A enfermeira chefe é a Maria, a enfermeira responsável pelo primeiro turno é a Rebeca e pelo segundo turno, a Isabel.

O Sr. Mateus tem 73 anos e a sua insuficiência renal foi causada pela diabetes. Ele faz hemodiálise desde dezembro de 2012 através de catéter. Porém, há uns 20 dias, a Dra. Débora sugeriu-lhe que ele fizesse uma fístula, o que se sucedeu. A fístula está fluindo bem, mas o local da incisão infeccionou e a Dra. Débora prescreveu um antibiótico venal que será ministrado na última  hora da hemodiálise durante 10 sessões. Ele passa as 4 horas da sessão quieto, dormindo ou assistindo TV.

O Sr. Marcos tem 91 anos e a sua insuficiência renal foi causada pela idade. Há 10 dias, a sua fístula parou de funcionar, devido a uma trombose no braço da fístula, e ele foi encaminhado para o hospital. Lá permaneceu e retornou hoje à Clínica Maldivas. Os médicos conseguiram preservar a fístula. Ele também passa a sessão dormindo, quieto ou assistindo TV.

O Lucas tem 67 anos e a sua insuficiência renal ocorreu há 9 anos por causa desconhecida, mas ele acredita que foi medicamentosa. Ele já fez um transplante renal, mas perdeu o rim transplantado após 4 anos. Retornou à hemodiálise há 3 anos. Ele é o meu vizinho de cadeira. Apesar de não o vê-lo, pois a minha máquina fica entre nós, conversamos bastante. Ele é alegre, espirituoso e gentil.

O Sr. João tem 64 anos e não sei o que motivou a sua insuficiência renal. Ele faz hemodiálise 4 vezes por semana devido ao seu potássio ser muito elevado. Desta forma, quando há cadeira vaga na minha sala, ele a utiliza. Ele também fica quieto, dormindo ou assistindo TV durante as 4 horas de sessão.

O termo cadeira, que usarei com frequência, refere-se também a uma máquina de hemodiálise. Na minha clínica, o acompanhante não pode ficar dentro da sala, por isso uma cadeira equivale a uma máquina de hemodiálise.

Eu sou a Helô, tenho 52 anos e a minha insuficiência renal decorreu dos meus rins serem policísticos desde a infância. Eu descobri os rins policísticos aos 19 anos, quando tive uma forte cólica renal. Desde então acompanhei o crescimento desses cistos anualmente. Em 2010, as taxas de creatinina e uréia começaram a aumentar lentamente e, em 2013, chegaram ao limite suportável pelo meu organismo. Em março de 2013, fiz a fístula e, em maio, iniciei a hemodiálise.

A técnica de enfermagem que fica na minha sala no primeiro turno (das 6 às !4h) é sempre a Ana. Ela tem 48 anos e trabalha na clínica há 9 anos, mas na área há quase 30. Ela é baixa, magra, cabelos negros e compridos. Mas no seu corpo pequeno tem uma pessoa forte, decidida, delicada, determinada, eficiente e bem-humorada. Ela é ótima.

A técnica de enfermagem que fica na minha sala no segundo turno (das 13 às 21h), neste mês, é a Eva. Falo neste mês, porque há um rodízio mensal entre as técnicas.

A Dra. Débora é a médica responsável pelos pacientes que fazem hemodiálise nas 2ª, 4ª e 6ª feiras, das 11h30 às 15h30, que é o meu caso. Ela é alta, cabelo curto e magra. A sua postura demonstra uma pessoa muito decidida, atenta, firme e eficiente. Com certeza, nos dá bastante segurança.

A enfermeira-chefe chama-se Maria. Ela é magra, cabelos lisos e longos, estatura média, fala mansa e tem um jeito muito doce de se comunicar. Tem uma habilidade especial para puncionar veias. Ela é muito eficiente para gerenciar, capacitar e treinar constantemente tantas técnicas de enfermagem, além de dar conta das inúmeras funções administrativas diárias.

Esta é uma breve apresentação de alguma das pessoas que fazem parte da minha HemoFamília.


                                                                      fonte: eneiasblog


"Esforce-se em se conformar, sempre e em tudo, à Vontade Divina, seja na alegria, seja na adversidade, e não se preocupe com o amanhã." (Santo Padre Pio de Pietrelcina)


Vamos lá embarcar comigo nesta jornada da vida real!!! Bem-vindos!!!


Com carinho,

Helô



domingo, 25 de agosto de 2013

O potássio e o coração

Olá, amigos!

Agora vou falar-lhes sobre o perigo do potássio elevado.

O potássio é um nutriente que está presente naturalmente em muitos alimentos, principalmente nas frutas, nos feijões, nas verduras e legumes. Ele tem várias funções importantes para o bom funcionamento do organismo, entre elas controle do sistema nervoso e muscular. Como tal, é muito importante para o funcionamento do coração.


                                                              fonte: dreamstime

Níveis elevados de potássio no sangue, ou seja, potássio maior que 5,5 mEq/l, podem provocar complicações no coração e fraqueza muscular.

Os rins são responsáveis pela eliminação do excesso de potássio da alimentação através da urina. Porém, quando os rins não funcionam mais adequadamente, o potássio se acumula no sangue podendo levar a alterações no ritmo cardíaco.

A diálise é muito eficiente na remoção do potássio plasmático, por isso compareça a todas as sessões e não faça menos tempo do que o que foi prescrito para você.

A dieta pobre em potássio é fundamental para evitar níveis elevados de potássio no sangue.

Frutas com pequena ou média quantidade de potássio:
  • laranja-lima;
  • coco fresco;
  • caqui;
  • abacaxi;
  • banana-maçã;
  • lima da pérsia;
  • pêra;
  • maçã;
  • acerola;
  • morango;
  • manga;
  • ameixa fresca;
  • jabuticaba;
  • pêssego;
  • melancia.

Frutas com grande quantidade de potássio:
  • banana-prata;
  • água de coco;
  • figo;
  • fruta-do-conde;
  • uva;
  • maracujá;
  • abacate;
  • kiwi;
  • laranja-pêra;
  • jaca;
  • melão;
  • goiaba;
  • mamão;
  • banana-nanica;
  • mexerica.

Vegetais que podem ser ingeridos crus em pequenas quantidades:
  • alface;
  • repolho;
  • agrião;
  • cenoura;
  • tomate;
  • pepino;
  • almeirão;
  • escarola;
  • pimentão.

Demais vegetais podem ser consumidos cozidos:
  • acelga;
  • mandioquinha;
  • abobrinha;
  • couve-flor;
  • vagem;
  • quiabo;
  • beterraba;
  • brócolis;
  • chuchu;
  • batata;
  • couve-manteiga;
  • abóbora;
  • mandioca;
  • berinjela;
  • espinafre.

Como diminuir o potássio dos alimentos e outros cuidados especiais:
- Descasque as frutas ou vegetais. Coloque em uma panela com bastante água e deixe ferver. Escorra a água e prepare-os como desejar.
- Sopas: não utilize a mesma água onde foram cozidos os legumes e verduras, pois este caldo é rico em potássio.
- Não prepare verduras ou legumes no vapor ou forno de microondas, pois esta forma de cozimento não diminui a quantidade de potássio.
- Não utilize a calda de compotas de frutas, pois contém muito potássio.
- Se as frutas forem consumidas sob a forma de suco, a concentração de potássio será maior. Portanto, você não deve abusar da quantidade de sucos.

Outros alimentos com grande quantidade de potássio que também devem ser evitados:
- Grãos: feijão, ervilha, lentilha, grão de bico; soja
- Frutas secas: coco seco ralado, uva passa, ameixa seca, damasco
- Oleaginosas: nozes, avelã, amendoim, amêndoa, castanhas
- Sal: todos os tipos de sal dietética ("Sal Light", "Sal Diet" e ""Slim Sal")
- Outros: chocolate, caldo de cana, suco concentrado de frutas, massa/extrato de tomate, café solúvel em grande quantidade, alimentos integrais.


Consulte uma nutricionista para saber a quantidade de frutas e demais alimentos que você pode consumir.


IMPORTANTE: A carambola é tóxica para pacientes portadores de doença renal crônica e seu consumo é PROIBIDO.

                                                                       fonte: talitacumi-mc


"Se alguém procura a saúde, pergunta-lhe primeiro se está disposto a evitar no futuro as causas da doença; em caso contrário, abstém-te de o ajudar." (Sócrates)

Com carinho,

Helô

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Veículo com isenção de imposto

Olá, amigos!

Hoje vou falar-lhes sobre o procedimento para a aquisição de veículo especial com até 29% de isenção para pessoas com determinadas patologias.


                                                                       fonte: webix


Abaixo algumas dessas patologias que poderão ter direito ao benefício da isenção, conforme avaliação de laudo médico e legislação vigente:
  • Amputações
  • Artrite reumatoide
  • Artrodese
  • AVC (com sequelas físicas)
  • AVE (acidente vascular encefálico, com sequelas físicas)
  • Alguns tipos de câncer (com limitação de membros)
  • Doenças degenerativas
  • Encurtamento de membros e más-formações (sob consulta)
  • Esclerose múltipla (com deficiência)
  • Escoliose acentuada
  • LER (lesão por esforço repetitivo, com limitação de membros)
  • Lesões com sequelas físicas
  • Manguito rotador
  • Mastectomia (retirada da mama)
  • Nanismo (baixa estatura)
  • Paralisia
  • Paraplegia
  • Parkinson
  • Próteses internas e externas. Ex.: joelho, quadril, coluna etc
  • Problemas na coluna (com limitação)
  • Quadrantomia (relacionada ao câncer de mama)
  • Renal crônico (com uso de fístula)
  • Síndrome do túnel do carpo
  • Tendinite crônica
  • Tetraparesia
  • Tetraplegia



O doente renal crônico que faz hemodiálise e tem fístula enquadra-se no rol acima citado e tem direito a obter diversas isenções legais, entre elas a isenção do IPI, ICMS e IPVA que incidem sobre o valor do veículo. Este doente, então, tem direito de comprar um veículo especial (adaptado) com o valor reduzido. A adaptação mínima é o câmbio automático. Agora, dependendo das limitações físicas da pessoa, várias adaptações no carro poderão ser feitas para minimizar a dificuldade de locomoção do deficiente nos termos da lei.

Os procedimentos exigidos pelo DETRAN de São Paulo são:

1) ter 18 anos completos, ser alfabetizado, apresentar original e cópia o RG e CPF, cópia do comprovante de residência e uma foto 3x4 colorida com fundo branco.
A única diferença para a obtenção da CNH para deficiente em relação à obtenção da Carteira de Habilitação normal é o condutor ser submetido ao exame médico por uma junta de médicos que examina a extensão da deficiência e desenvoltura do candidato. Esta junta médica atesta a deficiência. 

2) providenciados os documentos necessários, o solicitante deve procurar uma clínica credenciada autorizada a realizar o exame médico e psicotécnico especial para deficientes (lista disponível em www.detran.sp.gov.br  - Endereços - Clínicas). De posse do resultado do exame médico, fazer a matrícula em um Centro de Formação de Condutores (CFC) credenciado e realizar o exame teórico no DETRAN.
Caso a pessoa já seja habilitada, ela fará um exame médico e prático para a alteração de sua CNH de normal para deficiente, que dispensa a prova teórica.

3) para a realização do exame prático, procure uma auto-escola ou CFC que possua o veículo adaptado para o tipo de deficiência constatada (lista disponível em www.detran.sp.gov.br - Endereços - CFC). Os exames práticos são realizados às 3ª e 5ª feiras, às 14h., na Avenida Aricanduva, 5555, atrás do Shopping Aricanduva.
No dia do exame prático, um exame médico neste mesmo local será feito para avaliar se o motorista está apto para dirigir nesta nova situação. Esse exame começa a ser feito a partir das 11h, mediante senha por ordem de chegada.

4) Com a CNH Especial em mãos, o condutor deve requerer a emissão de um laudo para isenção, em uma clínica credenciada autorizada a realizar o exame médico (lista disponível em www.detran.sp.gov.br  - Endereços - Clínicas), e uma Certidão Negativa de Tributos e Contribuições Federais, na Delegacia da Receita Federal .
Para mais informações, o DETRAN orienta que o interessado procure a Delegacia da Receita Federal e a Secretaria da Fazenda.

No meu caso, eu consultei a lista de Clínicas credenciada no DETRAN e escolhi a mais perto da minha casa. Fui até lá, levando o laudo da nefrologista da clínica que eu faço hemodiálise, e fiz o exame médico sem pagar nada e estranhei muito. Porém, quando o exame terminou, o médico me encaminhou para uma casa ao lado da clínica, que era uma auto-escola, e mandou que eu procurasse o responsável em CNH Especial. Depois de todas as explicações, ele me cobrou R$1900,00 (um mil e novecentos reais), que se referia aos exames médicos, psicotécnico, biometria, ida ao DETRAN para alteração da carteira de habilitação, 1 aula prática e ida ao Shopping Aricanduva para outro exame médico e o exame prático, sendo que o procedimento se encerrava com a entrega da CNH Especial e do laudo para isenções. Este procedimento iniciou-se em 6 de junho de 2013 e terminou em 6 de agosto de 2013.

Finda a primeira fase (alteração da CNH Especial e entrega do laudo de isenção), em 9 de agosto de 2013, eu paguei mais R$790,00 para que o despachante indicado pela auto-escola providenciasse a autorização da isenção de tributos junto à Receita Federal e à Secretaria da Fazenda, a Certidão Negativa de Tributos e Contribuições Federais, além da autorização para a isenção do rodízio, isenção do IPVA e o cartão de deficiente físico expedidos pela Prefeitura de São Paulo, mais especificamente pelo DSV (Departamento de Operação do sistema Viário). É bom lembrar que o selo de deficiente que as pessoas colam nos vidros dos carros, por si só, não tem valor legal, ou seja, este cartão de deficiente é a real autorização para podermos estacionar em locais exclusivos para deficientes.

ATENÇÃO!!! Eu não sabia como era o procedimento da compra de um veículo com isenção e contratei o serviço do despachante. Foi a maior besteira que eu fiz. As Revendedoras oferecem este serviço gratuitamente se você comprar o carro com eles.

Com toda a documentação pronta (CNH para deficiente e as autorizações de isenções do IPI e do ICMS), eu me informei sobre quais os veículos especiais poderiam ser comprados com essas isenções e procurei a Revendedora da Montadora desejada. Assim que a Nota Fiscal de compra for emitida e o licenciamento feito, você deverá observar se o despachante encaminhou esta Nota Fiscal em até 30 dias ao Posto Fiscal Estadual, junto com alguns outros documentos exigidos, para que seja requerida a isenção do IPVA. Esta isenção do IPVA será automaticamente concedida a cada ano enquanto o veículo estiver em teu nome.





                                                                     fonte: mendes prev


Dentre as vantagens da realização de todo este procedimento, temos:

1) a isenção tributária para aquisição de veículo novo que totaliza 29%, sendo 13% de IPI, 12% de ICMS, 4% de IPVA.
Esta isenção é a maior vantagem para que a alteração da CNH seja feita.
Claro que há algumas restrições para se comprar veículos nessas condições, como: a) proibição de compra de veículo importado; b) permanência do veículo em sua propriedade por 2 anos; c) limitação em relação à potência do veículo; d) comprovação das condições financeiras da pessoa com mobilidade reduzida para a aquisição do veículo.

2) isenção no rodízio municipal de veículos.

3) cartão de estacionamento em vagas de deficientes.



"A ação é uma grande restauradora e construtora da confiança. A inatividade não só é o resultado, mas a causa do medo. Talvez a ação que você tome tenha êxito; talvez uma ação diferente ou ajustes terão de ser feitos. Mas qualquer ação é melhor que nenhuma." (Norman Vincent Peale)


Vamos lá, amigos, agir em busca dos nossos direitos!!!


Com carinho,

Helô



Visitem a minha página do Facebook chamada Blog Hemodiário (https://www.facebook.com/BlogHemodiario) e o meu perfil do Instagram com o nome de @blog_hemodiario. Até lá!
      

domingo, 18 de agosto de 2013

Sentimentos na hemodiálise

Olá, amigos!

Hoje vou falar-lhes sobre os meus sentimentos durante as sessões de hemodiálise. Todos os nomes que usarei são fictícios.

Comecei a fazer hemodiálise há 3 meses, mais precisamente no inesquecível 8 de maio de 2013.

No início, eu tive muito medo. Medo de ficar debilitada. Medo de não conseguir acompanhar o meu marido. Medo de não poder mais ajudar os meus filhos. Medo de ficar feia. Medo de ficar depressiva. Medo de morrer. Claro que eu disfarçava e fingia que estava sempre alegre, pois sempre acreditei que a alegria atrai coisas boas.


                                                         fonte: imagens por favor

Na clínica, eu me deparei com várias pessoas de vários tipos, mas predominavam as pessoas debilitadas.

Na primeira sala que eu fiquei (durante 1 mês), tinham 9 cadeiras com 9 pessoa diferentes e todas me comoviam. Eu ficava olhando para os 4 pacientes que estavam na minha frente (Sr. Dante, Sra. Rute, Sr. David e Sr. Pedro). Por mais que eu disfarçasse, observava assustada o comportamento de cada um deles e isso me deprimia.

O Sr. Dante ficava bem na minha frente. Tinha por volta de 70 anos. Ele estava desnutrido e vomitava antes e durante a sessão. Homem educado, humilde e muito agradável. Sofria muito durante as sessões e eu me solidarizava com a dor dele. Ele veio a falecer e eu fiquei realmente triste. Lembro-me dele sempre que entro na clínica.

A Sra. Rute é muito bem cuidada, está sempre bem vestida, com as unhas pintadas e um discreto batom. Ela tem por volta de 80 anos. Uma cuidadora a acompanha em todas as sessões e a ajuda a sentar na cadeira no início da sessão, tomar lanche, retocar o batom e levantar da cadeira no final da sessão. A fístula dela é trabalhosa e ela sente muita dor. Fico com água nos olhos quando vejo o seu  sofrimento no início da sessão. Ela está internada há mais de 2 semanas e rezo por ela.

O Sr. David deve ter por volta de 55 anos. Ele mora num asilo, apesar de ter mulher e filhos. É um homem bom e simpático. Os condutores da Van do Atende (serviço público gratuito que leva e traz as pessoas debilitadas) sempre o acompanham à clínica com muita gentileza e ele não reclama de nada. Ele é magro e precisa de cadeira de rodas para se locomover. Ele sonha, e acredita, com a cura milagrosa de seus rins. Quem sabe!

O Sr. Pedro faz hemodiálise há muitos anos e abusa muito do líquido e da comida, o que torna necessário que ele faça hemodiálise por 4 vezes por semana. Ele grita de câimbra todas as sessões, o que significa que ele não aguenta tirar a quantidade de líquido que ele ganha entre as sessões.

Nesse difícil primeiro mês, eu ficava com muito medo de ficar como um deles. Então, perguntei para a Dra. Débora se este estado físico era uma consequência natural da hemodiálise. Ela me falou que não e me disse que cabe ao médico adequar os medicamentos e ao paciente cuidar da alimentação, da ingestão de líquido e de fazer exercício.

No dia 10 de junho de 2013, após 1 mês de hemodiálise, eu mudei de sala, na qual estou até hoje, chamada Hemo 1.

Depois do primeiro mês, eu me senti melhor. Aprendi a entender os alarmes da máquina, a equilibrar a minha alimentação e a ingestão de líquido. Só faltava o exercício. Então, comecei a fazer esteira por 3 vezes na semana durante 1 hora no início de agosto. Sinceramente, eu não gosto, mas vou fazer para adquirir massa muscular e estar preparada para um transplante.

Os meus sentimentos variavam e ainda variam. Tinham dias que eu ficava triste, outros que eu me sentia uma pessoa inútil, outros, ficava com raiva de estar nesta situação, mas sempre tive alto astral e coragem para enfrentar a vida dentro e fora da clínica. Os meus sentimentos negativos, eu os abafava para extravasá-los nos momentos solitários.

Nesta sala, tem apenas 4 paciente e ficamos lado a lado. É muito melhor, pois não sofremos tanto com o sofrimento dos outros, porque a visualização é mais difícil. Porém, nós 4 sempre chegamos na clínica com meia hora de antecedência do início da sessão e conversamos mais. Por ordem de idade, tem o Sr. Marcos, com 91 anos; o Sr. Mateus, com 73 anos; o Lucas, com 67 anos e eu, com 52 anos.

O Sr. Marcos é muito quieto e gentil. Vai à clínica com uma dedicada cuidadora. O problema maior dele é a hipotensão. Ele já chega com pressão de 10x6 (pressão normal é 12 x 8). Nesta semana, a fístula dele parou e ele não fez hemodiálise. Foi direcionado ao Hospital para tentar desobstrui-la e estou na torcida. Se Deus quiser, tudo dará certo.

O Sr. Mateus também é muito quieto e vai acompanhado de uma simpática cuidadora. Ele tinha cateter até a semana passada e agora fez uma fístula. A sua pressão também é baixa e ele tem diabete. Um homem educado e tímido.

O Lucas é muito falante e engraçado. Já fez um transplante que durou 4 anos. Antes ele já fazia hemodiálise nesta mesma clínica. Fez 2 anos de hemodiálise, 4 anos de transplante e está há 3 anos novamente na hemodiálise. Ele sabe tudo, mas abusa muito da alimentação. O seu maior problema é pressão alta e câimbra.

Tudo na vida nós nos acostumamos. A clínica, atualmente, já faz parte da minha vida e os pacientes, enfermeiros, médicos e funcionários fazem parte da minha família.


                                                                   fonte: iasd central anajatuba


"A alegria adquire-se. É uma atitude de coragem. Ser alegre não é fácil, é um ato de vontade." (Gaston Courtois)

Vamos lá, amigos, fazer a nossa parte e receber as grandes bênçãos!!!

Com carinho,

Helô