terça-feira, 25 de novembro de 2014

Desabafo

Olá, amigos!

Hoje, 25 de novembro de 2014, a exato um mês do Natal, eu acordei muito cansada da minha vida com hemodiálise.


                                                                    Mulher triste


Acordei triste, cansada e com muitas dores. Dói o braço direito (região das punções), dói a região lombar, dói a região dos ouvidos e o corpo todo. Foram 242 sessões de hemodiálise em 18 meses de tratamento. A falta de previsão de um transplante e a prisão que a máquina nos impõe causa um desânimo sem fim.

Eu sou ariana e tenho muita sorte de ter um gênio bom, ser otimista e alegre. Enfrento todos os problemas da vida com fé e bom humor. Porém, hoje estou muito cansada. Realmente, fazer hemodiálise é um sofrimento.

Fazer hemodiálise significa ter a obrigação de comparecer na clínica por 3 vezes na semana e ficar ligada à máquina durante 4 horas. Ficar numa sala com pessoas que não escolhi, ter que compartilhar os meus sentimentos e ser testemunha dos sentimentos delas. É um calvário e um aprendizado inigualável.

Enfrento com leveza os meus problemas, mas sou humana e hoje me sinto muito cansada de tudo isso.

Claro que sou grata pela existência dessa máquina que me faz sobreviver. Digo sobreviver e não viver, pois a minha vida é muito limitada: a pressão arterial fica instável; o peso seco é difícil de ser calculado (como não urino mais, o médico tem que calcular o peso sem o líquido acumulado para que este excesso seja eliminado pela máquina em cada sessão, este é chamado de peso seco); a ingestão de líquido é muito limitada; há muita restrição alimentar; a quantidade de medicamentos prescrita é grande; todos os meses o resultado dos exames varia e os medicamentos são adequados; o ânimo e a disposição para viver o dia-a-dia é bem reduzido. Tudo isso é facilmente justificado, uma vez que a máquina de hemodiálise filtra o nosso sangue durante 12 horas semanais enquanto os rins filtravam
durante 168 horas. Impossível nos sentirmos muito bem com tantas impurezas no nosso sangue.

Eu tive uma mãe maravilhosa, mas muito indisciplinada com a sua saúde. Ela sofreu muito e faleceu aos 63 anos. Presenciando esse sofrimento, eu resolvi ser disciplinada para sofrer o mínimo possível. Não abuso da comida e nem da bebida. Sigo as orientações médicas e nutricionais. Faço a minha parte e quase não sofro as consequências desses abusos durante a hemodiálise, como câimbras, dor de cabeça e alteração significativa da pressão, além de não precisar fazer sessão extra para retirar o potássio ou o excesso de líquido. Na minha clínica, o máximo do excesso de líquido que pode ser retirado por sessão é 4,5 litros, desde que o paciente aguente (pressão arterial fique em níveis aceitáveis).

Sonho com um transplante renal e este sonho é a saúde da minha mente. Sei que o transplante é um tratamento e não uma cura, mas ele significa a minha libertação da máquina de hemodiálise. Liberdade para viajar, liberdade para ingerir mais de 500 ml de líquido, liberdade para trabalhar por 5 dias na semana, liberdade para ficar doente e acamada por alguns dias, liberdade para ter férias, liberdade de toda a família e amigos do estresse que a sessão de hemodiálise significa, enfim, liberdade da dependência de uma máquina.


                                     
                                                                  Liberdade


Depois de todo este sincero desabafo, só posso dizer que tenho muita fé e acredito que o dia do meu transplante chegará e eu voltarei a viver intensamente.

"A liberdade é a única riqueza, porque do resto somos ao mesmo tempo amos e escravos." (William Hazlitt)


Com carinho,

Helô





OBS: Visitem a minha página do Facebook chamada Blog Hemodiário  (https://www.facebook.com/BlogHemodiario) e no Instagram com o nome blog_hemodiario. Até lá!