domingo, 18 de agosto de 2013

Sentimentos na hemodiálise

Olá, amigos!

Hoje vou falar-lhes sobre os meus sentimentos durante as sessões de hemodiálise. Todos os nomes que usarei são fictícios.

Comecei a fazer hemodiálise há 3 meses, mais precisamente no inesquecível 8 de maio de 2013.

No início, eu tive muito medo. Medo de ficar debilitada. Medo de não conseguir acompanhar o meu marido. Medo de não poder mais ajudar os meus filhos. Medo de ficar feia. Medo de ficar depressiva. Medo de morrer. Claro que eu disfarçava e fingia que estava sempre alegre, pois sempre acreditei que a alegria atrai coisas boas.


                                                         fonte: imagens por favor

Na clínica, eu me deparei com várias pessoas de vários tipos, mas predominavam as pessoas debilitadas.

Na primeira sala que eu fiquei (durante 1 mês), tinham 9 cadeiras com 9 pessoa diferentes e todas me comoviam. Eu ficava olhando para os 4 pacientes que estavam na minha frente (Sr. Dante, Sra. Rute, Sr. David e Sr. Pedro). Por mais que eu disfarçasse, observava assustada o comportamento de cada um deles e isso me deprimia.

O Sr. Dante ficava bem na minha frente. Tinha por volta de 70 anos. Ele estava desnutrido e vomitava antes e durante a sessão. Homem educado, humilde e muito agradável. Sofria muito durante as sessões e eu me solidarizava com a dor dele. Ele veio a falecer e eu fiquei realmente triste. Lembro-me dele sempre que entro na clínica.

A Sra. Rute é muito bem cuidada, está sempre bem vestida, com as unhas pintadas e um discreto batom. Ela tem por volta de 80 anos. Uma cuidadora a acompanha em todas as sessões e a ajuda a sentar na cadeira no início da sessão, tomar lanche, retocar o batom e levantar da cadeira no final da sessão. A fístula dela é trabalhosa e ela sente muita dor. Fico com água nos olhos quando vejo o seu  sofrimento no início da sessão. Ela está internada há mais de 2 semanas e rezo por ela.

O Sr. David deve ter por volta de 55 anos. Ele mora num asilo, apesar de ter mulher e filhos. É um homem bom e simpático. Os condutores da Van do Atende (serviço público gratuito que leva e traz as pessoas debilitadas) sempre o acompanham à clínica com muita gentileza e ele não reclama de nada. Ele é magro e precisa de cadeira de rodas para se locomover. Ele sonha, e acredita, com a cura milagrosa de seus rins. Quem sabe!

O Sr. Pedro faz hemodiálise há muitos anos e abusa muito do líquido e da comida, o que torna necessário que ele faça hemodiálise por 4 vezes por semana. Ele grita de câimbra todas as sessões, o que significa que ele não aguenta tirar a quantidade de líquido que ele ganha entre as sessões.

Nesse difícil primeiro mês, eu ficava com muito medo de ficar como um deles. Então, perguntei para a Dra. Débora se este estado físico era uma consequência natural da hemodiálise. Ela me falou que não e me disse que cabe ao médico adequar os medicamentos e ao paciente cuidar da alimentação, da ingestão de líquido e de fazer exercício.

No dia 10 de junho de 2013, após 1 mês de hemodiálise, eu mudei de sala, na qual estou até hoje, chamada Hemo 1.

Depois do primeiro mês, eu me senti melhor. Aprendi a entender os alarmes da máquina, a equilibrar a minha alimentação e a ingestão de líquido. Só faltava o exercício. Então, comecei a fazer esteira por 3 vezes na semana durante 1 hora no início de agosto. Sinceramente, eu não gosto, mas vou fazer para adquirir massa muscular e estar preparada para um transplante.

Os meus sentimentos variavam e ainda variam. Tinham dias que eu ficava triste, outros que eu me sentia uma pessoa inútil, outros, ficava com raiva de estar nesta situação, mas sempre tive alto astral e coragem para enfrentar a vida dentro e fora da clínica. Os meus sentimentos negativos, eu os abafava para extravasá-los nos momentos solitários.

Nesta sala, tem apenas 4 paciente e ficamos lado a lado. É muito melhor, pois não sofremos tanto com o sofrimento dos outros, porque a visualização é mais difícil. Porém, nós 4 sempre chegamos na clínica com meia hora de antecedência do início da sessão e conversamos mais. Por ordem de idade, tem o Sr. Marcos, com 91 anos; o Sr. Mateus, com 73 anos; o Lucas, com 67 anos e eu, com 52 anos.

O Sr. Marcos é muito quieto e gentil. Vai à clínica com uma dedicada cuidadora. O problema maior dele é a hipotensão. Ele já chega com pressão de 10x6 (pressão normal é 12 x 8). Nesta semana, a fístula dele parou e ele não fez hemodiálise. Foi direcionado ao Hospital para tentar desobstrui-la e estou na torcida. Se Deus quiser, tudo dará certo.

O Sr. Mateus também é muito quieto e vai acompanhado de uma simpática cuidadora. Ele tinha cateter até a semana passada e agora fez uma fístula. A sua pressão também é baixa e ele tem diabete. Um homem educado e tímido.

O Lucas é muito falante e engraçado. Já fez um transplante que durou 4 anos. Antes ele já fazia hemodiálise nesta mesma clínica. Fez 2 anos de hemodiálise, 4 anos de transplante e está há 3 anos novamente na hemodiálise. Ele sabe tudo, mas abusa muito da alimentação. O seu maior problema é pressão alta e câimbra.

Tudo na vida nós nos acostumamos. A clínica, atualmente, já faz parte da minha vida e os pacientes, enfermeiros, médicos e funcionários fazem parte da minha família.


                                                                   fonte: iasd central anajatuba


"A alegria adquire-se. É uma atitude de coragem. Ser alegre não é fácil, é um ato de vontade." (Gaston Courtois)

Vamos lá, amigos, fazer a nossa parte e receber as grandes bênçãos!!!

Com carinho,

Helô

Um comentário:

  1. Espero que vc ñ fique excessivamente impressionada com o que ocorre na sala. Realmente há muitos idosos, o que é muito triste, pois muitos sequer podem sonhar com o transplante. E tb é preciso lembrar que na maioria dos casos eles chegaram à hemodiálise devido a um quadro de debilidade orgânica quase generalizado, sendo a diálise apenas mais um dos problemas que enfrentam.
    Pessoas mais jovens como vc costumam manter a vitalidade com mais facilidade, desde que dispostos a encarar o tratamento com um apoio, como parece o seu caso.

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