quinta-feira, 3 de março de 2016

HemoFamília #18 - Ser feliz

Olá, amigos!

Hoje, 5 de março de 2016, eu vou contar-lhes o dia a dia na Clínica Travessia durante a semana de 29 de fevereiro a 4 de março de 2016. Escolhi este nome fictício para minha clínica porque, se Deus quiser, eu farei um transplante renal e me livrarei da dependência da máquina de hemodiálise. De modo que eu estou nesta clínica apenas atravessando um difícil período na minha vida. Os demais nomes também são fictícios e inspirados em nomes de Santos da Igreja Católica.

Cada episódio semanal desta série corresponde a 3 sessões de hemodiálise, mais especificamente às de 2ª, 4ª e 6ª feiras. Assim, eu o publicarei na 6ª, sábado ou domingo. Claro que isso não é uma regra, mas uma diretriz para o momento.

Os 7 pacientes que fazem hemodiálise na minha sala, mais alguns da outra sala e de outros turnos, mais médicos, enfermeiras, técnicas de enfermagem, o pessoal da limpeza e outros membros da equipe, acabam formando uma família, na qual todos acompanham os problemas uns dos outros, compartilham sofrimentos, torcem pela recuperação alheia, alegram-se quando alguém faz transplante e sofrem quando alguém falece. É difícil de explicar, mas a habitualidade da convivência com pessoas tão diferentes em situações tão parecidas, nos tornam uma família e isso é muito bom,  confortante e desperta a nossa compaixão. Gosto muito deste pensamento: "A compaixão é que nos torna verdadeiramente humanos e impede que nos transformemos em pedra, como os monstros de impiedade das lendas." (Anatole France)

     
  
Os 7 pacientes que fazem hemodiálise na minha sala são:

(1) Agostinho é um jovem senhor de 63 anos, inteligente, calmo e sensato, que faz hemodiálise há 10 anos; 
(2) Pedro é um jovem senhor de 45 anos, alegre, comunicativo, amoroso, mas muito rebelde no tratamento, que faz hemodiálise há uns 6 anos; 
(3) Expedito é um senhor de 85 anos, que faz hemodiálise há 8 anos. Ele é muito sério, calado e sente muito frio; 
(4) Joana é uma uma jovem senhora de 50 anos, que faz hemodiálise há uns 3 anos. Ela é muito quieta e reservada. 
(5) Rita é uma senhora de 71 anos, muito delicada, educada e gentil, que já fez diálise peritoneal e passou a fazer hemodiálise após uma infecção peritoneal; 
(6) Tomás é um senhor de 75 anos, muito educado, amável e discreto, que já fez um transplante que durou 27 anos;
(7) eu, Helô, tenho 54 anos e faço hemodiálise há 2 anos e 9 meses. Sou alegre, otimista e comunicativa.

Na segunda-feira, eu acordei um pouco mais cansada que o normal. Talvez porque eu tenha tido um fim de semana corrido (o socorro da minha cadela Jade na noite de sábado após uma briga que a deixou muito machucada) ou porque ainda continuava com a infecção urinária, mesmo após ter tomado 5 dias do antibiótico Cipro. Não sei. Eu relatei o meu cansaço à nefrologista, que pediu que eu fizesse um exame de urina e um ultrassom renal. Eu terminei a hemodiálise às 11h, fui para casa, almocei, tomei 3 copos de água (600ml) e marquei o ultrassom para às 17h. Às 15h, eu fui ao laboratório e infelizmente não consegui urinar 20 ml no potinho, que é o mínimo exigido para que o exame de urina fosse realizado. Sinceramente, eu fiquei muito frustrada, mesmo sabendo que eu urino muito pouco. Acredito que nós nos acostumamos com uma doença crônica e até nos sentimos uma pessoa sadia, mas, quando nos deparamos com uma incapacidade básica, como a de urinar 20 ml, a nossa limitação volta à tona e nos sentimos doentes. Fiquei triste!!! Voltando à sessão da hemodiálise, eu fiquei feliz com a volta do Sr. Tomás, que ficou uma semana internado para descobrir uma febre diária há dias. Infelizmente, a causa da febre não foi descoberta. O Pedro ainda está internado e muito triste e choroso com a amputação de parte de sua perna. Nada como o tempo para aceitarmos qualquer adversidade! A máquina do Pedro foi utilizadas por uma alegre e falante paciente de outro turno. Ela nos contou que fará um transplante renal em 23/3/2016 e que a doadora será a sua irmã. Estou na torcida! 

Na quarta-feira, eu cheguei no térreo da clínica às 5h40. Aguardei a chegada do Sr. Tomás, mas ele não chegou. Depois, eu fiquei sabendo que ele tinha sido internado novamente. Vamos aguardar pela sua recuperação! Toda a primeira quarta-feira do mês é dia de rotina, que quer dizer dia de coleta de sangue para exames laboratoriais de todos os pacientes e tínhamos que chegar em jejum. A nefrologista me informou que no meu exame de urina só deu alterado o número de leucócitos (33.000)  e agora é esperar o resultado da cultura. A Sra. Rita é diabética e mede a glicemia assim que acorda. Como ela mora em Ibiúna, nos dias da hemodiálise, ela acorda às 4 horas e consequentemente mede a glicemia. Ela verificou que estava 78, que é baixa para quem é diabético, e ingeriu uma colher de açúcar. Mesmo assim, ela falou que estava em jejum. Demos risada do seu jeito doce e ingênuo de ser. O Agostinho concordou em fazer hemodiálise por 6 vezes na semana durante 2 horas cada sessão para tentar controlar a sua pressão, que está muito alta. O Sr. Expedito teve uma queda de pressão e a técnica de enfermagem deitou bem a sua cama para que os pés dele ficassem acima da sua cabeça. Ele ficou bravo, porque, realmente, a posição não é confortável. A Joana é bem politizada e chegou indignada com a situação política do país. A sua pressão é baixa, mas ela passa bem assim mesmo. A sessão passou rápida, porque eu, a Sra. Rita e o Agostinho conversamos muito e sobre diversos assuntos, inclusive sobre o envio de ovos de Páscoa pela Sra. Rita para os seus netos no Japão. Eu adoro uma boa prosa!!!

Na sexta-feira, o amanhecer estava lindo e o sol já iluminava o nosso dia. Subimos em 4 para a sala de hemodiálise: eu, Joana, Sra. Rita e a alegre jovem senhora que vai fazer transplante em 23 de março de 2016, que vou chamá-la de Lourdes. A manhã foi diferente e agitada. O ex-presidente Lula tinha sido conduzido coercitivamente para prestar esclarecimentos na Polícia Federal sobre a Operação Lavajato. As TVs ficaram ligadas na BandNews e as manifestações de todos era sobre este assunto. A Joana é a mais politizada. Ela é quieta e reservada, mas nesta sexta estava muito falante e manifestava a sua opinião a todo momento. A Lourdes, que sentou na minha frente na cadeira do Pedro, estava ansiosa, porque iria para um SPA. Ela tem que perder peso até o dia do transplante. O Pedro melhorou e foi transferido para o quarto. Ótima notícia!!! O Sr. Agostinho ainda estã internado e não tivemos notícias dele. Eu não estava me sentindo bem e aguardava o resultado da cultura do meu exame de urina. Foi um dia diferente pelos fatos externos e os ânimos ficaram acirrados!

                        
                                                   Papa Francisco

O Papa Francisco é o líder da Igreja Católica. Ele é um homem especial e adorável, com uma simplicidade genuína e uma generosidade contagiante. A homilia de 2 de março de 2016, colada abaixo, é maravilhosa e devemos ler e reler várias vezes:


"Você pode ter defeitos, ser ansioso, e viver alguma vez irritado, mas não esqueça que a sua vida é a maior empresa do mundo. Só você pode impedir que vá em declínio. Muitos lhe apreciam, lhe admiram e o amam. Gostaria que lembrasse que ser feliz não é ter um céu sem tempestade, uma estrada sem acidentes, trabalho sem cansaço, relações sem decepções. Ser feliz é achar a força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor na discórdia. Ser feliz não é só apreciar o sorriso, mas também refletir sobre a tristeza. Não é só celebrar os sucessos, mas aprender lições dos fracassos. Não é só sentir-se feliz com os aplausos, mas ser feliz no anonimato. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver a vida, apesar de todos os desafios, incompreensões, períodos de crise. Ser feliz não é uma fatalidade do destino, mas uma conquista para aqueles que conseguem viajar para dentro de si mesmo. Ser feliz é parar de sentir-se vítima dos problemas e se tornar autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas conseguir achar um oásis no fundo da nossa alma. É agradecer a Deus por cada manhã, pelo milagre da vida. Ser feliz, não é ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si. É ter coragem de ouvir um "não". É sentir-se seguro ao receber uma crítica, mesmo que injusta. É beijar os filhos, mimar os pais, viver momentos poéticos com os amigos, mesmo quando nos magoam. Ser feliz é deixar viver a criatura que vive em cada um de nós, livre, alegre e simples. É ter maturidade para poder dizer: "errei". É ter a coragem de dizer:"perdão". É ter a sensibilidade para dizer: "eu preciso de você". É ter a capacidade de dizer: "te amo". Que a tua vida se torne um jardim de oportunidades para ser feliz... Que nas suas primaveras seja amante da alegria. Que nos seus invernos seja amante da sabedoria. E que quando errar, recomece tudo do início. Pois somente assim será apaixonado pela vida. Descobrirá que ser feliz não é ter uma vida perfeita. Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância. Utilizar as perdas para treinar a paciência. Usar os erros para esculpir a serenidade. Utilizar a dor para lapidar o prazer. Utilizar os obstáculos para abrir janelas de inteligência.  Nunca desista....Nunca renuncie às pessoas que lhes amam. Nunca renuncie à felicidade, pois a vida é um espetáculo incrível". 
Uma feliz quaresma. 
Boa tarde.
Papa Francisco.




Vamos dedicar um pouco do nosso precioso tempo aos doentes e utilizar a dor para lapidar o prazer!!!

Com carinho,
Helô



OBS: Visitem a minha página do Facebook chamada Blog Hemodiário (https://www.facebook.com/BlogHemodiario) e o meu perfil do Instagram com o nome de @blog_hemodiario. Até lá!

OBS2: Venham participar do grupo HEMODIÁRIO no Facebook!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário