quarta-feira, 11 de setembro de 2013

HemoFamília #3 - BCM e peso seco


Olá, amigos!


Agora vou falar-lhes sobre outra semana na Clínica Maldivas. Escolhi este nome, porque, se Deus quiser, farei um transplante renal e irei conhecer esta ilha paradisíaca.


Cada episódio semanal desta série corresponde a 3 sessões de hemodiálise, mais especificamente às de 6ª, 2ª e 4ª feira. Assim, eu publico na 5ª feira.

Os 30 pacientes que fazem hemodiálise no meu turno, mais alguns de outros turnos, mais médicos, enfermeiras, técnicas de enfermagem, as mulheres da limpeza, o repositor de material, o técnico das máquinas, as recepcionistas e outros, acabamos formando uma família, que acompanha os nossos problemas, divide as nossas dores, torce para a nossa recuperação e sofre com a nossa partida. É difícil de explicar, mas a habitualidade da convivência com pessoas tão diferentes em situações bem parecidas, nos tornam familiares e isso é muito bom.




                                                           fonte: Psiconlinebrasil

O exercício, a alimentação e a medicação são os três pilares de uma boa saúde durante o tempo em que fazemos hemodiálise. Percebo, então, que depende mais de mim a minha qualidade de vida do que dos medicamentos. O exercício, eu escolhi fazer esteira 5 vezes por semana durante 40 minutos. A alimentação, eu sigo a orientação da cartilha que recebi na minha clínica e fico atenta aos meus exames mensais. A medicação, eu sigo a prescrição da Dra. Débora, que é a médica responsável por mim na Clínica Maldivas. Além disso, procuro sempre estar com um alto astral e bem-humorada. 
  
A técnica de enfermagem Ana é quem punciona os meus túneis (técnica de canulação, onde as punções são feitas sempre no mesmo local). Mas, nessa semana, ela teve uma dor de dente e não foi trabalhar um único dia, neste dia eu sofri, pois a técnica que ficou na minha sala não conseguiu "pegar" as minhas veias. Ela chamou o técnico da outra sala, mas ele só conseguiu puncionar na 3ª tentativa. A minha pressão até caiu de tanta dor. Depois desse dolorido momento, fiz uma boa hemodiálise.

O Sr. Marcos (91) voltou para a clínica, mas desta vez ele perdeu a fístula. Um cateter foi passado na região do seu pescoço, que será agora o seu acesso à hemodiálise. Ele anda muito pouco, por sentir fraqueza nas pernas. Cada sessão, ele chega com 2,5 a 3 kg a mais, mas só consegue perder 2kg. A sua pressão já é baixa e não pode forçar muito. Ele toma 3 Hemax por sessão.

O Sr. Mateus (73) continua tomando antibiótico, devido à infecção que teve na região da fístula nova. Ele toma 3 Hemax por sessão. A sua pressão é muito baixa, fica em torno de 10x5 ou 10x4, mas ele aguenta bem esta pressão.

O Lucas (67) tem uma mesma fístula há 9 anos, que tem um ótimo frêmito. Ele acredita que isto se deve ao fato dele ter feito sempre muito exercício, pois ele era coreógrafo e dançarino. Sua pressão é sempre alta. Ele toma 2 Hemax por sessão.

Eu, 52 anos, estou fazendo exames específicos a fim de confirmar as minhas condições para fazer um transplante. Fui ao meu cardiologista e fiz eletrocardiograma, RX de tórax, cintilografia do miocárdio e exames laboratoriais. Estou aguardando os resultados para que o meu cardiologista faça um laudo médico sobre as minhas condições de saúde, o qual entregarei para a Dra. Débora que o arquivará no meu prontuário da clínica.

A minha pressão durante a hemodiálise fica normal (12x8 ou 11x7) para baixa (11x6 ou10x5). Na última sessão, eu tive câimbra, mas, como era suportável, eu não tomei remédio, nem foi diminuído o volume de líquido a retirar pela máquina e nem tomei soro. Essas são as providências tomadas pelos médicos da minha clínica quando temos muita câimbra durante a hemodiálise, principalmente no final da sessão.

Nessa semana, eu fiquei pensando sobre o peso seco. Este peso é o que temos que atingir no final da hemodiálise. Eu não entendo como podemos nos pesar com qualquer roupa e, sem qualquer desconto, a máquina de hemodiálise ser programada para tirar o volume excedente para obtermos o peso seco. O nosso peso seco é calculado através de um exame denominado BCM (Massa Celular Corporal = Body Cell Mass). Este, quando realizado, ocorre no início da sessão de hemodiálise, antes de sermos ligado à máquina. Nesses 4 meses, eu fiz duas vezes este exame: o primeiro, uma semana após iniciar as sessões de hemodiálise, e o segundo, nesta semana (após 4 meses do início). 

O meu pensamento é o seguinte: o exame BCM detecta o nosso peso certo (peso seco), sem o líquido extra acumulado decorrente do mal funcionamento dos rins. Porém, ao chegarmos na sala da clínica, nós nos pesamos com qualquer tipo de roupa e, sem descontar qualquer valor (a roupa pode pesar de 500 g até 1 kg), a máquina de hemodiálise é programada e temos que, se possível, sair com o peso seco. Falo possível, porque cada paciente suporta perder um volume máximo e, cada clínica, tem o seu protocolo de retirada de líquido máximo de um paciente. Na minha clínica é 4,5 kg. É certo que pesamos com a mesma roupa ao entrar e ao sair da sessão de hemodiálise, portanto, no final da sessão sabemos qual foi o volume de líquido retirado, mas não o real peso seco, devido a variação do peso da roupa. Lembro que 100 ml é importante para ser retirado. Difícil, né? 



                                                               exame para obter a BCM
                                                                                fonte: acervo de imagens do google



Na última 6ª feira, eu saí da clínica razoavelmente bem. Mas fiquei muito aborrecida com a pressão que os pacientes do último turno fizeram com a técnica de enfermagem da tarde. Eu fui desligada da máquina às 15h50 e fiquei pronta às 16h. Apesar do turno da noite começar às 16h30, um dos pacientes ficava abrindo a porta e pressionando a técnica. Eu saí para ir ao banheiro e quando voltei a técnica me falou: "A senhora está vendo, o que esta paciente fica falando? Depois, eles ficam falando mal de vocês, por causa do horário." É por estas e outra que defendo que as regras existem para serem cumpridas. Os pacientes do último turno da minha sala têm vários privilégios de horário e de lanche, o que os fazem se sentirem únicos e arrogantes.

Na última 6ª feira, o meu querido marido Laerte estava viajando e eu cheguei em casa um pouco deprimida. Então, eu chorei muito e me senti muito triste por tudo que estou vivendo. Fui deitar às 20 h e rezei sem parar. A limitação da minha vida e a minha dependência da máquina é algo difícil de aceitar. Sei que milhares de pessoas tem problemas de saúde piores que o meu, mas a verdade é a que nós realmente só sentimos o que acontece conosco. O problema dos outros nos compadece, mas não nos debilita. Dormi angustiada, mas acordei bem no sábado: fiz 1 hora de esteira, fui no supermercado, conversei com amigas, assisti uns episódios de uma série que estou acompanhando e fui dormir leve e feliz. Obrigada, Deus, por me dar tanta força e me acalentar nos momentos de angústia!     


Foi uma boa semana, apesar das adversidades!


"Esforce-se em se conformar, sempre e em tudo, à Vontade Divina, seja na alegria, seja na adversidade, e não se preocupe com o amanhã." (Santo Padre Pio de Pietrelcina)


Vamos lá embarcar comigo nesta jornada da vida real!!! Bem-vindos!!!


Com carinho,

Helô


4 comentários:

  1. Olá, Tenho DRC estágio 5 e estive aposentado na especial de julho de 2013 á setembro de 2015 quando tive cessado a aposentadoria. Recorri e com nova PPP consegui aposentar em janeiro de 2016.Posso pedir isençao do IRPF no meu benefício e posso também pedir a devoluçao do irpf pago em 2014 quando saí da empresa e paguei o IRPF? Faço hemodiálise desde 07/03/2017.

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    1. Olá, Jair!
      Infelizmente eu não sei responder a tua pergunta.
      Consulte o teu contador.
      Abraço, Helô

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  2. Parabéns pela força e inspiração! Boa sorte !

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  3. Não é fácil enfrentar a realização de sessões de hemodiálise, três vezes por semana, durante 4 (quatro) horas.

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