quinta-feira, 11 de junho de 2015

Saudades

Olá, amigos!

Hoje, 11 de junho de 2015, eu estou um pouco nostálgica, mas quero também compartilhar com vocês esta nostalgia. A causa foi a minha visita a clínica onde fiz hemodiálise de 8 de maio de 2013 até 6 de março de 2015.

Eu sou advogada e trabalhei a maior parte da minha vida sozinha. Tinha uma vida muito agitada, processos em diversos fóruns da cidade de São Paulo, além de em algumas cidades do interior. Não sabia como era a convivência com tantas pessoas tão diferentes, mas acreditava que a doença humanizava. Acreditei errado, porque a maldade e arrogância de alguns doentes é inimaginável.

A minha doença de rins policísticos foi descoberta em 1980, aos meus 19 anos, e ela não atrapalhou em nada a minha vida até o início da hemodiálise, aos 52 anos (8 de maio de 2013). Quando a minha vida mudou. Eu passei a ser uma pessoa doente que dependia de uma máquina de hemodiálise para sobreviver. Não sabia, e ainda não sei, durante quanto tempo estarei nesta situação, pois só um transplante renal poderá me dar uma nova vida. 

Eu fui conhecer a clínica indicada pelo meu nefrologista, que era uma casa antiga adaptada localizada na avenida 9 de julho, na região dos Jardins, na cidade de São Paulo, e não gostei. Como todo local adaptado, não era bonita como clínica (apesar de ter muitos detalhes que demonstravam que o local foi um lindo sobrado: escadaria de mármore de Carrara, vitrais muito bonitos, salas espaçosas na parte térrea e diversos acabamentos requintados). Eu me preocupei com a qualidade do tratamento e com a habilidade das enfermeiras e técnicas de enfermagem para "pegar" as minhas veias, que sempre foram muito difíceis.

A qualidade do tratamento era inquestionável, pois a clínica pertencia ao tradicional grupo alemão Fresenius/NephroCare. Restava então conhecer a habilidade das enfermeiras e técnicas de enfermagem. A enfermeira chefe Rosanna tinha uma habilidade impressionante e conseguiu me puncionar de primeira, o que sempre foi muito raro. Contudo, como a técnica a ser utilizada comigo seria a buttonhole (ou túnel), a mesma profissional teria que me puncionar de 12 a 15 vezes, ou até os túneis ficarem bem formados e prontos, ela não poderia assumir tal encargo devido ao seu excesso de trabalho. A técnica de enfermagem designada foi a Selma, que era muito habilidosa e "construiu" dois bons túneis no meu braço esquerdo, apesar dela ser uma das responsáveis de outra sala de hemodiálise. Esta atitude flexível, humana e generosa da competente enfermeira  Rosanna me acalmou e me agradou de tal forma, que eu sabia que estava no lugar certo. Os meus túneis estão ótimos até hoje.

"Túneis" formados, eu mudei de sala e a enfermeira Rosanna autorizou a técnica Léo a começar a me puncionar. Isso foi em junho de 2013. Eu ia na clínica 3 vezes por semana (2ª, 4ª e 6ª feiras), das 11h30 às 16h30, e ficava sempre na mesma sala e cadeira. Nós éramos 4 pacientes para ela cuidar. O carinho da Léo comigo e com todos me encantava diariamente. Ela tinha uma facilidade para lidar com todos tipos de pessoas. Ela estava sempre de bom humor e tinha a sensibilidade de respeitar cada um. Sinceramente, eu conheci poucas pessoas como ela. A sua companhia era um prazer. Falava o necessário no momento certo. Ela tinha quase 50 anos de idade e 30 de profissão. Teve uma infância e juventude muito pobre numa pequena cidade do norte de Minas Gerais, mesmo assim era grata, generosa, feliz e muito amável. Veio para São Paulo há aproximadamente 20 anos e trabalha na mesma empresa. Foi um prazer tê-la conhecido e convivido com ela durante quase 2 anos. Eu tinha vontade de ir para a clínica para encontrá-la, conversar, rir e a sessão passava rápida e leve. Quantas saudades eu sinto da Léo, que é um ser HUMANO raro. Eu jamais a esquecerei. 



                                                                           Léo e eu

Não quero ser injusta e esquecer algum profissional diferenciado pelas atitudes humanas que lá trabalhavam, por isso quero agradecer a todos de modo geral. Muito obrigada por cada abraço,por cada comemoração. por cada café com leite, por cada risada, por cada ajuda para guardar o meu kit de hemodiálise, por cada fofoca boa, por cada torcida, por cada Bingo, por cada lanche coletivo, por cada palavra de conforto, enfim, por tudo. 

Parabéns, Rosanna, por ser esta chefe tão justa e saber treinar tão bem a tua equipe. Você é maravilhosa e sempre a terei no meu coração.

Mesmo estando num ambiente tão bom, eu fiquei sabendo que outra clínica do grupo tinha máquinas mais modernas e que o capilar (filtro/dialisador) era trocado em todas as sessões e não a cada 20. O meu médico me recomendou a mudança, porque certamente eu ficaria melhor, e eu mudei, pelo simples fato que querer me sentir melhor. Iniciei na nova clínica em 9 de março de 2015. É um lugar novo e  muito bonito. Eu sei que é melhor para mim e realmente estou me sentindo bem melhor, mas a saudades da minha antiga clínica é muito grande, pois era um ambiente mais flexível, alegre e humano.

Hoje, 11 de junho de 2015, eu fui visitar a minha antiga clínica, que a apelidei carinhosamente de Maldivas. Fui MUITO bem recebida e todos pediram para eu voltar, pois sentiam a minha falta. Eu chorei e falei que eu voltaria no mesmo momento se lá tivesse uma máquina igual a que estou sendo dialisada e o filtro fosse trocado a cada diálise. Como foi difícil eu deixar um ambiente tão agradável e humano por outro onde eu seria melhor dialisada. A saudades daquele lugar doeu, e ainda dói, muito forte no meu peito. A frase de Rubem Alves descreve bem o que estou sentindo: "A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar." 


                                                                         Saudade


Foi muito difícil dizer adeus para pessoas tão queridas e ter a coragem de mudar. Mas como nos ensina Richard Hooker: "As mudanças nunca ocorrem sem inconvenientes, até mesmo do pior para o melhor."


Com carinho,
Helô




OBS: Visitem a minha página do Facebook chamada Blog Hemodiário (https://www.facebook.com/BlogHemodiario) e o meu perfil do Instagram com o nome de @blog_hemodiario. Até lá!

Nenhum comentário:

Postar um comentário