terça-feira, 12 de setembro de 2017

A emoção do meu transplante

Olá, amigos!

Hoje vou falar-lhes sobre a emoção do meu transplante. Sem sombra de dúvida, um dos melhores momentos da minha vida. É indescritível a alegria que senti!!!!

Os meus rins começaram a parar em janeiro de 2010, aos meus 48 anos. Eu tinha rins policísticos e, desde os 18 anos, eu acompanhava anualmente a função renal. Em 2010, comecei a fazer uma dieta conservadora (hipoproteica) para poupar o máximo os meus rins. Eu me sentia sempre cansada, com náusea (ureia sempre alta) e indisposta, mas trabalhava muito e sempre procurava o lado bom para ser alegre e feliz. Em maio de 2013, aos meus 52 anos, eu iniciei a hemodiálise. Apesar da dor da punção, câimbras, infecções, desmaios, hipotensões, restrição líquida e alimentar, eu me sentia melhor no que durante a dieta conservadora, principalmente porque após a hemodiálise a minha ureia ficava normal. Eu fazia hemodiálise nas 2ª, 4ª e 6ª feiras durante 4 horas. Em 31 de agosto de 2017, eu finalmente fiz o tão sonhado transplante renal!!! Foram 7 anos, 7 meses e alguns dias de muito sofrimento, mas eu vivia um dia de cada vez, sempre agradecendo por estar viva e assim eu estava sempre alegre. Eu amo viver!!! Eu amo minha família e meus amigos!!! Sempre tive motivos de sobra para ser feliz!!!

Assim que eu comecei a fazer hemodiálise, em 8 de maio de 2013, eu nada sabia sobre este tratamento. Resolvi então fazer o Blog Hemodiário para compartilhar aprendizado e experiências. Foi a melhor coisa que eu fiz. O retorno foi enorme e sei que motivei muitos doentes renais e seus familiares. Agora, começarei a aprender sobre transplante e da mesma forma compartilhar experiências e aprendizados. Vamos sempre seguir em frente!


                                      
     

Agora vou contar-lhes o passo a passo da emoção do meu transplante. O sentimento de alegria foi indescritível, mas vou tentar.

A 3ª feira, 29 de setembro de 2017, foi um dia normal. Como eu não fazia hemodiálise, eu acordei às 7h30, tomei café da manhã e fui passear pelo bairro, como de costume. Aproveitei e fui ao cabelereiro, um, porque eu gosto de arrumar o cabelo e fazer as unhas, e dois, porque lá é um lugar muito agradável e dou boas risadas. Fui almoçar com o Laerte, meu dedicado marido, no clube. O dia estava lindo. Voltei para casa, li, escrevi, assisti jornal, novelas, jantei com os meus filhos e fui dormir por volta das 22 horas, pois no dia seguinte eu acordaria às 5h para ir para hemodiálise. Não sei se há um motivo, mas eu nunca dormi durante as sessões de hemodiálise. De repente, às 2h da madrugada, o telefone fixo tocou. Eu atendi e um homem se identificou como Junior da Central de Transplantes. Meu coração disparou e lágrimas rolaram insistentementes. Ele fez diversas perguntas, as quais não me recordo de nenhuma. Só me recordo quando ele me disse que tinha um doador compatível comigo (Como assim? O meu Painel, que é a percentagem de anticorpos reativos, é 89%, que é altíssimo? A maioria das pessoas têm painel 0%. Se acharam uma agulha no palheiro para mim, todos que tem painel alto poderão ter esperança! Viva!!!) e que a cirurgia para extração do rim ainda não tinha começado. Fechei e abri os olhos várias vezes para ter certeza de que não era um sonho. Ela disse ainda que uma enfermeira iria entrar em contato comigo e que até lá eu deveria levar a vida normal. Como assim? Eu queria ir para o Hospital do Rim para esperar o meu novo rim. Mas fiz o que ele me orientou. Nós 4 (eu, Laerte marido, Laerte filho e Fernanda filhe) estávamos atônitos no meu quarto. Nos entreolhávamos sem acreditar no que estava acontecendo, mas extremamente felizes. Rezei muito para que aquele rim fosse meu e funcionasse bem! 

Na 4ª feira, 30 de agosto, eu acordei às 5h03 (adoro o 8) e o meu leal companheiro me levou para hemodiálise, como sempre. Quando ele viajava, o meu filho Laerte me levava. Cheguei na hemodiálise e não contei, uma vez que o rim ainda não era meu. Foi a mais longa hemodiálise das 676 que eu fiz. Só pensava como seria a minha vida com um novo rim. Eu iria poder tomar água à vontade, iria voltar a fazer xixi, poderia acompanhar o meu Laerte nas suas suas viagens, poderia tomar suco de laranj, comer frutas variadas. Estava em êxtase, mesmo com a incerteza de ser a contemplada. Cheguei em casa às 11 horas e não desgrudei do telefone. Chegou meio-dia e nada. Chegou 13 h e nada. Laerte saiu sorrateiramente e de repente me ligou que tinha ido ao famoso 6º andar do Hospital do Rim, mais conhecido como hrim, e viu o meu nome na lista dos que iriam ser chamados ao hospital. Resolvi então arrumar a minha mala. Às 15h30, a enfermeira Bruna me telefonou e falou que eu deveria ir até o 6º andar do hrim com os últimos exames que eu tivesse é com alguns documentos. Eu perguntei sobre a mala e ela disse que por enquanto a deixasse em casa.

Eu e o Laerte fomos ao 6º anda do hrim. Cheguei lá e fiquei sabendo que tinham 8 rins para serem transplantado. Soube depois que 7 desses foram transplantados no hrim. Uma médica nefrologista me consultou. Fez várias perguntas, me examinou, ficou com os meus exames e fez mais alguns, como eletrocardiograma, RX, exame de sangue. Tudo isso era para verificar se eu estava apta naquela pé dia para receber um rim sem correr risco. Tive que fazer mais 2 horas de hemodiálise lá mesmo, porque o meu potássio estava alto. Achei estranho, porque aprendi que na hemodiálise todo excesso de potássio é retirado e eu tinha feito 4 horas de HD na parte da manhã e só tinha comido um sanduíche de queijo e 3 ameixinhas amarelas, que nas minhas contas daria 200 mg e eu poderia comer 1500 mg por dia. Fiz a hemodiálise e terminei às 23 horas. Estava exausta e faminta. A enfermeira me mandou para casa, falou que me ligaria por volta das 2 h da madrugada assim que saísse a lista oficial da Secretaria da Saúde, que eu era a 1ª da filado hrim, mas, se houvesse um ireceptor mais compatível do que eu, o rim seria dele e também que eu deveria começar o jejum a meia-noite para ficar preparada para uma eventual cirurgia, ou melhor, para o meu sonhado transplante. Esperança sempre foi o meu norte! Eu queria ficar lá, no íntimo para assegurar que eu seria a contemplada, mas claro que fui para casa. Cheguei em casa e deitei de imediato. Meu filho cozinhou 2 ovos caipiras e eu os comi às 23h55. Estava tudo dando muito certo e cada vez mais eu acreditava que o rim seria meu. Rezei, rezei e adormeci. Como se eu tivesse colocado um despertador, acordei às 2 horas, conferi se o celular estava ligado e nada. Dormi de novo. Às 5h10, eu levantei e falei para o Laerte que algo deveria ter dado errado. Talvez o rim não fosse bom. De imediato, o celular tocou e a enfermeira Bruna disse que EU TINHA SIDO CONTEMPLADA!!! O RIM ERA MEU!!! Estão entendendo. A minha vida iria mudar e eu iria passar a viver após mais de 7 anos que estava sobrevivendo. Já estávamos os 4 juntos novamente no meu quarto (eu, Laerte marido, Laerte filho e Fernada filha). Uma emoção indescritível!!!

Era 5ª feira, 31 de agosto de 2017. Uma 5ª feira especial. Uma 5ª feira que jamais esquecerei. Uma 5ª feira que mudou a minha vida. Incrível como a vida muda de repente!!! Vale a pena acreditar!!! Eu, Laerte pai e Laerte filho fomos para o 6º andar do hrim. A Fernanda filha é professora do 4º ano e não poderia deixar a sua classe assim de repente. Então ela foi até o colégio, a coordenadora logo a liberou e ela foi me encontrar no hrim. No caminho para o hospital, eu avisei os meus irmãos, a minha cunhada Staël e algumas amigas. Pedi muitas orações e a corrente logo se formou. Ó WhatsApp é maravilhoso para divulgar informações. Eu me sentia em estado de graça. Não tive medo da cirurgia e estava em paz. Eu fui para o Centro Cirúrgico às 10h30. O Laerte marido, o Laerte filho, a Fernanda filha, a Sabrina nora, a Marina irmã e a Regina irmã ficaram juntos até eu ser levada para o POI (Pós Operatório Imediato) às 19h. Muito obrigada pela torcida!!! Amo vocês!!!

Eu entrei no Centro Cirúrgico às 10h30. Fui para sala de recuperação e lá fiquei consciente por 2 horas. O anestesista foi conversar comigo e fez várias perguntas. Logo em seguida, o cirurgião Dr. Wilson Ferreira Aguiar também foi conversar comigo. Às 12h30, eu fui levada para a sala de cirurgia. Ao adentrá-la, me deparei com dois médicos manipulando o rim numa bacia de alumínio. Nada me impressionava, tamanha a segurança que eu sentia. A cirurgia começou as 12h40 e terminou às 15h40. Fui levada para a sala de recuperação, mas não me lembro de quase nada. Às 19h, me levaram para o POI e me emocionei quando encontrei aquelas 6 pessoas tão queridas que ficaram no hospital o dia inteiro. Adorei vê-los naquele momento!!! Passei a noite no POI com mais 5 pacientes, sendo cada um em seu box. 

Na 6ª feira, 1º de setembro, eu pedi para caminhar às 10h e o enfermeiro me ajudou. Eu já estava deitada há 24h. Caminhei no corredor ao lado de um pai que tinha doado o rim para a filha. Conversávamos sem parar. Eu estava muito feliz e excitada. Ouvi então uma enfermeira dizer para outra: É melhor mandá-la para o quarto, porque ela não para de falar e andar. Os outros 5 pacientes estavam desmilinguidos em suas camas. Eu não cabia em mim de tanta felicidade!!! Fui então mandada para o quarto 1808, no 8º andar, e lá fiquei até 8 de setembro. Eu adoro o número 8 é incrível como ele me acompanhou neste dia tão importante da minha vida.

No final da tarde, o meu potássio estava alto e eu precisei fazer uma sessão de hemodiálise. Foi a sessão número 676 é a melhor de todas, porque pude ficar acompanhada da minha filha Fernanda, do meu irmão Hugo e da minha amiga Angélica. Foi muito divertida e nem vi omtempo passar. Tudo estava dando certo. TUDO!

Eu fui para o quarto com um dreno, que tirei no 8º dia, 8/9, e com uma sonda urinária, que tirei no 7º dia, dia 7/9. Tirei logo cedo e às 10 h foi a 1ª vez que urinei depois de 4 anos. Acreditem se puderem, mas fiquei emocionada e chorei. Como a felicidade realmente está nas coisas simples!!! Mas o critério mais importante para saber se o rim está funcionando é a taxa de creatinina. Eu comecei a fazer hemodiálise com 7,0 de creatinina e pré-transplante era em torno de 9. Assim, todos os dias o sangue era coletado para verificar o valor da creatinina. Lembrando que em uma pessoa que o rim funciona normalmente a creatinina é em torno de 1,0. A evolução da minha creatinina foi 5,24; 5,27; 3,9; 3,1; 2,5; 2,0 e 1,9. Sucesso!!!

Tive alta em 8 de setembro de 2017 e voltei para casa extraordinariamente feliz. Eu queria de imediato beber muita água, tomar suco de laranja, fazer muito pipi, comer verduras e frutas variadas sem anotar, Incrível como temos que viver bem cada dia e estarmos sempre preparados para as mudanças que podem ocorrer repentinamente. Viva a vida!!!

Agora o meu querido e companheiro Blog Hemodiário passará a focar em transplante e compartilharei as minhas experiências e aprendizados como transplantada. Claro que para os transplantes ocorrerem é necessário ter os doadores de órgãos. Então, eu incentivarei a doação de órgãos para que a fila de espera termine e os doentes que aguardem algum órgão possam ter uma nova vida assim como eu. 



       


Aproveito para agradecer o meu generoso doador falecido e à sua generosa família. Vocês estarão sempre no meu coração e nas minhas orações. Parabéns pela atitude tão nobre e obrigada por estarem me proporcionando uma nova vida!!!

Se você quer ser um doador de órgãos, não se esqueça de avisar a sua família, pois a retirada dos órgão após a comprovadamente morte encefálica só ocorrerá com a autorização dos seus familiares. 


DOE ÓRGÃOS, DOE VIDA


Com carinho,

Helô


OBS: Visitem a minha página do Facebook chamada Blog Hemodiário (https://www.facebook.com/BlogHemodiario) e o meu perfil do Instagram com o nome de @blog_hemodiario. Até lá!

OBS2: Venham participar do grupo HEMODIÁRIO no Facebook!!!

19 comentários:

  1. Fiquei muito emocionada com seu post.... com carinho
    Flavia

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    1. Que bom! Eu tentei passar um pouco da extrema felicidade que senti quando fui contemplada a receber um rim. É simplesmente demais!!! 😘

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  2. Helô, felicidades e aproveite cada segundo da sua vida. Todos valem a pena!Bjs

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    1. Helia, obrigada!
      Em sempre aproveitei cada dia da minha vida. Mas agora vou aproveitar a liberdade de cada dia. Com carinho, Helô

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  3. Me emocionei muito com o seu post, chorando, enxugando as lágrimas e a máquina de diálise apitando rs.. eu creio que viverei essa felicidade em breve, tenho fé! Deus te abençoe e te guarde nessa recuperação. Bjs

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    1. Olá, Juliana!
      Que bom que você sentiu um pouco da minha emoção!
      Quando menos esperar, chegará a tua vez!
      Nunca perca a fé e a esperança!!!
      Que Deus te abençoe!
      Um beijo carinhoso

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  4. Te acompanho a algum tempo.tu não tem idéia da felicidade que fiquei ao ver que transplantou.te desejo tudo de melhor nessa vida... sinônimo de guerreira.

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  5. Te acompanho a algum tempo.tu não tem idéia da felicidade que fiquei ao ver que transplantou.te desejo tudo de melhor nessa vida... sinônimo de guerreira.

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  6. Acompanho o Hemodiario a um bom tempo. Ele é mto instrutivo mas dessa vez, além de instrutivo, foi EMOCIONANTE. Parabéns Helô. Que Deus continue te abençoando nessa nova fase da sua vida.

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    1. Foi muito emocionante!
      Sei que todos têm que ter esperança deste momento tão maravilhoso!
      Amém!
      Abraço, Helô

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Olá. Gledson!
      Muito obrigada pelas palavras.
      Tenha muita força, fé e esperança que logo o teu rim chegará!
      Boa sorte! Abraço, Helô

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  8. Oi, Helô. Meu filho fez a cirurgia em 02 de agosto de 2019. Está bem! Gratidão a você por compartilhar sua experiência,foi muito importante para nós, nós momentos mais difíceis. Gratidão!

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    1. Fico muito feliz por tê-lo ajudado. Tomem bastante cuidado no primeiro ano após o transplante, pois ele tem baixa imunidade assim como os bebês recém-nascidos. Depois, a vida será normal. Que Deus o abençoe!!! 🙌🙌🙌🙏🙏🙏 com carinho, Helô

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    2. Mande o nome dele para eu incluí-lo nas minhas orações. 🙏🏻🙏🏻🙏🏻

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  9. O nome dele é Giovani Brum. Gratidão, Helô. Continue, o seu blog ajuda muito.

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  10. Olá, Helô! Que emocionante este teu relato! Sou estudante de Medicina e estudando sobre diálise e transplante renal me deparei com o teu blog. Parabéns pelo trabalho! Desejo muita saúde para ti e toda tua família! Que aqueles que esperam pelo transplante logo sejam comtemplados

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    1. Olá, Gabriela! Temos que conscientizar as famílias a doarem os órgãos de seu parente com morte cerebral. Um abraço

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