terça-feira, 10 de maio de 2016

HemoFamília #20 - Fósforo

Olá, amigos!

Hoje, 10 de maio de 2016, eu vou contar-lhes os significativos fatos ocorridos na Clínica Travessia de 20 de abril até hoje. Escolhi este nome fictício para minha clínica porque, se Deus quiser, eu farei um transplante renal e me livrarei da dependência da máquina de hemodiálise. De modo que eu estou nesta clínica apenas atravessando um difícil período na minha vida. Os demais nomes também são fictícios e inspirados em nomes de Santos da Igreja Católica.


Os 7 pacientes que fazem hemodiálise na minha sala, mais alguns da outra sala e de outros turnos, mais médicos, enfermeiras, técnicas de enfermagem, nutricionista, farmacêutica, assistente social, psicóloga, o pessoal da limpeza e outros membros da equipe, acabam formando uma família, na qual todos acompanham os problemas uns dos outros, compartilham sofrimentos, torcem pela recuperação alheia, alegram-se quando alguém faz transplante e sofrem quando alguém falece. É difícil de explicar, mas a habitualidade da convivência com pessoas tão diferentes em situações tão parecidas, nos tornam uma família e isso é muito bom,  confortante e desperta a nossa compaixão. Gosto muito deste pensamento: "A compaixão é que nos torna verdadeiramente humanos e impede que nos transformemos em pedra, como os monstros de impiedade das lendas." (Anatole France)


  
  

Os 7 pacientes (nomes fictícios) que fazem hemodiálise na minha sala são:

(1) Agostinho é um jovem senhor de 63 anos, inteligente, calmo e sensato, que faz hemodiálise há 10 anos; 
(2) Rita é uma senhora de 71 anos, muito delicada, educada e gentil, que já fez diálise peritoneal e passou a fazer hemodiálise após uma infecção peritoneal; 
(3) Pedro é um jovem senhor de 45 anos, alegre, comunicativo, amoroso, mas muito rebelde no tratamento, que faz hemodiálise há uns 6 anos; 
(4) eu, Helô, tenho 55 anos e faço hemodiálise há 3 anos. Sou alegre, otimista e comunicativa.
(5) Expedito é um senhor de 85 anos, que faz hemodiálise há 8 anos. Ele é muito sério, calado e sente muito frio; 
(6) Tomás é um senhor de 74 anos, muito educado, amável e discreto, que já fez um transplante que durou 27 anos;
(7) Joana é uma uma jovem senhora de 60 anos, que faz hemodiálise há uns 3 anos. Ela é muito quieta e reservada. 


O Agostinho faz hemodiálise por 6 vezes na semana durante 2 horas cada sessão. Deste modo, ele tem menos restrição de líquido e alimentação. Ele tem um humor irônico e inteligente, que faz com que as sessões de HD fiquem mais agradáveis.


A Sra. Rita passou por um período difícil. O marido dela foi viajar para o Japão. Ele ficou lá por umas 3 semanas. Ocorre que, quando chegou em São Paulo, ele teve um forte resfriado e ficou internado por uns 10 dias. Ela não pode visitá-lo por cautela. Como os dois moram sozinhos num sítio em Ibiúna - SP, ela ficou bem triste. Para piorar, ela também ficou resfriada e foi internada no mesmo dia que o marido teve alta. É impressionante como há momentos nas nossas vidas que acontece tudo ao mesmo tempo! Agora, tudo voltou ao normal e finalmente o casal está junto novamente!     


O Pedro está surpreendentemente bem. Digo isto, porque ele amputou uma perna e estava muito deprimido quando teve alta hospitalar em março de 2016. Em dois meses, a depressão visivelmente desapareceu. Ele faz fisioterapia e já fala de uma prótese. O Pedro é um santista roxo e ficou muito feliz com a vitória do Santos no Campeonato Paulista. Ele é espirituoso e divertido! 


Eu passei bem esse período. Tive uma coceira nas costas e desconfiei que o meu fósforo estava alto. Fiz exame de sangue e o meu fósforo estava 5,0, o que é normal para o doente renal crônico. Perguntei então para a nefrologista, que me mandou hidratar bem a pele. Foi o que fiz e a coceira passou. Fica a dica!

O Sr. Expedito está com fraqueza nas pernas e tem levado alguns tombos. Mesmo assim, ele não reclama de nada. Ele é o típico nordestino forte e guerreiro!

O Sr. Tomás está na expectativa de começar a usar a fístula para retirar o cateter e poder mergulhar no mar. Ele é um homem independente, culto e otimista! Companhia muito agradável!

A Joana está bem, apesar da sua pressão ser baixa (10x6). Ela é muito politizada e o momento atual a está deixando muito animada. Isto é bom! Ela é muito discreta e reservada.


Um dos problemas do doente renal crônico é o fósforo. O seu excesso é eliminado pelos rins. Nos doentes renais crônicos, como os rins não funcionam, este mineral não é eliminado adequadamente e pode se acumular no sangue, causando prurido (coceira) e estimulando a produção do paratormônio. Para evitar que o fósforo fique alto e cause os problemas citados, o nefrologista pode prescrever um querelante de fósforo (Renagel), que deve ser tomado durante as refeições que tenham alimentos ricos em fósforo, ou uma dieta com redução de fósforo. Os doentes renais crônicos, que fazem hemodiálise e, portanto, fazem exames mensais, devem observar sempre a taxa do fósforo que deve ficar entre 3,5 e 5,5. Fiquem atentos à alimentação!!!


  




"A nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda." (Oliver Goldsmith)  

Vamos dedicar um pouco do nosso precioso tempo aos doentes e utilizar a dor para lapidar o prazer!!!

Com carinho,
Helô



OBS: Visitem a minha página do Facebook chamada Blog Hemodiário (https://www.facebook.com/BlogHemodiario) e o meu perfil do Instagram com o nome de @blog_hemodiario. Até lá!

OBS2: Venham participar do grupo HEMODIÁRIO no Facebook!!!

2 comentários:

  1. Heloisa,

    Encontrá-la foi muito legal. Tenho a sua idade, moro em Brasília e dialiso desde maio de 2011. Encontrei seu Blog pesquisando informações sobre o Painel. Vou seguí-la com certeza. No começo pensei em fazer algo igual, mas fui tomada por uma apatia tão grande que sequer consegui escrever mais no Blog que mantinha chamdo Diario Da Equilibrista. Também mantenho a fé inabalável de que obterei a graça do transplante. Tenho uma doença policística o que de certa forma me concede alguns "privilégios", como ainda urinar, por exemplo. É muito bom saber que há alguém que compreende as limitações de um renal crônico e os "ups and downs" da rotina de tratamento. Espero que possamos nos falar mais. Um abraço e parabéns pela iniciativa. Ana Maria

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    1. Boa noite, Ana Maria!
      Obrigada pelas gentis palavras!
      Eu acho muito gratificante compartilhar experiências e aprendizados e saber a luta de cada um. Isso me motiva e preenche o meu tempo.
      Eu também tenho rins policísticos, mas urino muito pouco (150 ml por dia).
      O meu painel é 89%, o que diminui a minha chance de transplante. Mesmo assim, eu tenho muita esperança.
      Um abraço

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