terça-feira, 19 de abril de 2016

HemoFamília #19 - Superação

Olá, amigos!

Hoje, 19 de abril de 2016, eu vou contar-lhes os significativos fatos ocorridos na Clínica Travessia de 5 de março até hoje. Escolhi este nome fictício para minha clínica porque, se Deus quiser, eu farei um transplante renal e me livrarei da dependência da máquina de hemodiálise. De modo que eu estou nesta clínica apenas atravessando um difícil período na minha vida. Os demais nomes também são fictícios e inspirados em nomes de Santos da Igreja Católica.

Cada episódio semanal desta série corresponde a 3 sessões de hemodiálise, mais especificamente às de 2ª, 4ª e 6ª feiras. Assim, eu o publicarei na 6ª, sábado ou domingo. Claro que isso não é uma regra, mas uma diretriz para o momento. Este post, por exemplo, eu vou relatar brevemente as últimas 6 semanas.

Os 7 pacientes que fazem hemodiálise na minha sala, mais alguns da outra sala e de outros turnos, mais médicos, enfermeiras, técnicas de enfermagem, nutricionista, farmacêutica, assistente social, psicóloga, o pessoal da limpeza e outros membros da equipe, acabam formando uma família, na qual todos acompanham os problemas uns dos outros, compartilham sofrimentos, torcem pela recuperação alheia, alegram-se quando alguém faz transplante e sofrem quando alguém falece. É difícil de explicar, mas a habitualidade da convivência com pessoas tão diferentes em situações tão parecidas, nos tornam uma família e isso é muito bom,  confortante e desperta a nossa compaixão. Gosto muito deste pensamento: "A compaixão é que nos torna verdadeiramente humanos e impede que nos transformemos em pedra, como os monstros de impiedade das lendas." (Anatole France)


 
  
Os 7 pacientes (nomes fictícios) que fazem hemodiálise na minha sala são:

(1) Agostinho é um jovem senhor de 63 anos, inteligente, calmo e sensato, que faz hemodiálise há 10 anos; 
(2) Pedro é um jovem senhor de 45 anos, alegre, comunicativo, amoroso, mas muito rebelde no tratamento, que faz hemodiálise há uns 6 anos; 
(3) Expedito é um senhor de 85 anos, que faz hemodiálise há 8 anos. Ele é muito sério, calado e sente muito frio; 
(4) Joana é uma uma jovem senhora de 55 anos, que faz hemodiálise há uns 3 anos. Ela é muito quieta e reservada. 
(5) Rita é uma senhora de 71 anos, muito delicada, educada e gentil, que já fez diálise peritoneal e passou a fazer hemodiálise após uma infecção peritoneal; 
(6) Tomás é um senhor de 75 anos, muito educado, amável e discreto, que já fez um transplante que durou 27 anos;
(7) eu, Helô, tenho 55 anos e faço hemodiálise há 2 anos e 11 meses. Sou alegre, otimista e comunicativa.

Nessas 6 semanas desde a publicação do HemoFamília #18, muitas coisas aconteceram na minha clínica, mas vou contar-lhes as mais significativas, que demonstram as dificuldades dos doentes renais crônicos e a constante superação.

Eu tive uma infecção no trato urinário e o tipo da bactéria E. Coli era resistente a vários antibióticos, inclusive ao CIPRO. Fui internada em 6 de março de 2016, tomei antibiótico através da veia e tive alta em 14 de março de 2016. Como eu tenho rins policísticos, um cisto também se rompeu nesse período e a minha urina ficou bem sanguinolenta. Eu saí do hospital bem debilitada e, para agravar, a minha funcionária que trabalhava na minha casa há quase 18 anos não estava em casa quando eu saí do hospital. Eu saí numa segunda-feira e ela só apareceu na outra segunda-feira. Ela pediu demissão sem cumprir aviso prévio. Foi muito difícil, mas superei esta fase e estou ótima!

O Sr. Tomás foi internado por causa de uma infecção e está bem. Ele foi internado novamente para fazer a fístula arterio-venosa e teve que dormir na UTI por causa da anestesia. Ele superou mais esta. Ele é muito otimista e alegre!

O Sr. Expedito também ficou internado nesse período por causa de uma infecção. Ele já teve alta e está bem. 

O Sr. Expedito e o Sr. Tomás usam catéter como acesso à hemodiálise e se tornam mais suscetíveis a infecções.

O Pedro é diabético e faz hemodiálise há 6 anos. Ele sempre foi muito rebelde e indisciplinado, o que agravou a sua doença. Ele é um homem alto (1,85 m), grande e já chegou a pesar 160 kg. Quando internou em fevereiro de 2016, ele pesava 125 kg. Desde julho de 2015, ele lutava contra uma infecção no pé direito. A ferida não cicatrizava. Foi necessário fazer raspagem, tomar vários tipos de antibiótico e fazer tratamento em câmara hiperbárica. Porém, em fevereiro de 2016, ele foi internado. No hospital, ele pegou uma infecção hospitalar (bactérias altamente resistentes aos antibióticos existentes), foi para UTI, teve paradas cardíacas, respirou com a ajuda de aparelhos e a sua perna teve que ser amputada. Correu grave risco de vida. Eu fui visitá-lo e fiquei impressionada com a dedicação de seus pais. O Pedro surpreendentemente reagiu pouco a pouco e, após aproximados 60 dias de internação, ele teve alta. Em meados de março, ele voltou para clínica. Claro que ele estava muito depressivo! A sua mãe, de 75 anos, o levava e buscava. Um forte e gentil acompanhante de uma paciente o tirava do carro, o colocava na cadeira da hemodiálise, o tirava e o colocava no carro no final da sessão. Ele começou fisioterapia e tomou antidepressivo. Hoje ele pesa 110 kg e superou a depressão. O Pedro está confiante, alegre e já fala no dia em que colocará uma prótese. Ele estar conosco novamente e ter superado tanto sofrimento é um milagre e uma alegria!

A cada dia mais eu me surpreendo com a força de superação dos doentes renais crônicos. Nesses quase 3 anos que eu faço hemodiálise por 3 vezes por semana, eu já convivi com vários doentes que morreram, que tiveram AVC, que tiveram anorexia, que pararam de andar por fraqueza muscular, que tiveram os mais diversos tipos de infecções, que tiveram câncer, que tiveram hepatite, que tiveram AIDS e outras doenças, mas que sempre lutaram para viver e superar cada obstáculo. O doente renal crônico é aparentemente fraco por fora e surpreendentemente forte por dentro. É impressionante o renascer desses doentes após as mais graves enfermidades! 


 
  

Este post eu dedico ao meu amigo Pedro, que está enfrentando a perda de uma perna com muita dignidade e força. Que Deus o abençoe hoje e sempre!

"A nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda." (Oliver Goldsmith)  

Vamos dedicar um pouco do nosso precioso tempo aos doentes e utilizar a dor para lapidar o prazer!!!

Com carinho,
Helô



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