Agora vou falar-lhes sobre a técnica de buttonhole, que é um método menos doloroso para inserir as agulhas da diálise.
De um modo bem simples, podemos dizer que o tratamento da hemodiálise consiste na filtragem do sangue do paciente com insuficiência renal por uma máquina. O paciente fica ligado à máquina durante 4 horas por 3 vezes na semana através de um cateter ou de uma fístula arteriovenosa (FAV), como já expliquei em outro post. No caso de fístula, a equipe punciona 2 pontos, sendo que por uma agulha sai o sangue e pela outra, o sangue é devolvido ao corpo. Os métodos de punção são rotação de local (rope ladder) e canulação de buttonhole. Vou falar-lhes sobre a 2ª, que é a técnica que fizeram em mim desde o início das minhas sessões de hemodiálise.
A técnica de buttonhole para canulação de fístula arteriovenosa é um método no qual a agulha com corte é inserida exatamente no mesmo lugar em seções consecutivas de hemodiálise até a formação de uma canulação (túnel) que será acessada posteriormente com agulhas sem corte. É recomendável que o mesmo técnico faça este procedimento até que se forme um túnel. Este técnico perfura sempre o mesmo ponto de entrada ao longo de semanas até estar seguro de que o túnel está bem definido e já possa servir como guia para a canulação, garantindo a correta colocação da agulha. Deste modo, passará a utilizar uma agulha sem corte para puncionar as veias e qualquer profissional poderá puncioná-las facilmente sempre no mesmo local.
A técnica de buttonhole começou a ser utilizada por volta do ano de 1976 na Europa e no Japão e, em 1981,nos Estados Unidos. Portanto, esta técnica existe há mais de 37 anos.
Os benefícios gerais para os pacientes com a técnica de buttonhole são: 1) a canulação é menos dolorida; 2) as agulhas são mais fáceis de inserir no curso, e 3) os pacientes podem usar agulhas cegas, que reduzem o corte do túnel e o gotejamento subsequente durante a hemodiálise.
As 3 grandes diferenças entre a técnica de rotação de local e a canulação de buttonhole são: 1) a individualização de canulação (a mesma pessoa que iniciou o túnel e que determinou a angulação deve ser sempre seguida ); 2) remoção da crosta (de uma sessão para outra uma crosta formará sobre o ponto a ser puncionado e esta deverá ser removida com muito cuidado e higiene. Na minha Clínica, recomenda-se colocar uma gaze embebida em soro fisiológico por pelo menos 30 minutos, que amolecerá a crosta e ela poderá ser removida facilmente com a própria gaze); 3) quem pode canular (recomenda-se que a mesma pessoa faça a canulação até a formação do túnel. Após a sua consolidação, qualquer profissional poderá puncioná-lo.)
O maior problema para a não utilização desta técnica é a equipe de trabalho, que muitas vezes é rotativa e dificulta o sucesso deste procedimento, que recomenda-se que o mesmo profissional que iniciou o túnel também o conclua, o que pode levar de 3 a 4 semanas ou até mais, variando de indivíduo para indivíduo.
braço da Helô Junqueira em 20/7/2013: cicatriz da FAV (fístula arterio-venosa) no punho e os 2 pontos avermelhados são os túneis |
Eu comecei a fazer hemodiálise em 8 de maio de 2013 e, em 19 de julho de 2013 (32ª sessão), foi o 1º dia que usei a agulha sem corte (Romba). Foram 14 sessões fazendo o túnel na veia que sai o sangue (o ponto mais perto do punho) e 22 sessões na que o sangue entra no corpo. Minhas veias sempre foram difíceis, pois são profundas e tortuosas. Mudanças de túneis foram feitas, mas, com a habilidade e persistência da equipe, só posso dizer que valeu à pena e a dor da punção acabou.
Esta técnica de buttonhole é, com certeza, a melhor para os pacientes.
"O rio corta a rocha não por causa de sua força, mas por causa de sua persistência. (Jim Watkins)"
Vamos pedir para que esta técnica de buttonhole seja implantada cada vez mais em nosso país, pois ela beneficia, e muito, nós, pacientes, além de ser uma técnica menos dolorosa e torna menos feio os nossos braços.
Com carinho,
Helô